Com o passar do tempo a morte ronda, não porque nos tornamos mais velhos, mas porque nossa percepção do que é a morte se torna mais clara. 

Em abril desse ano perdi minha avó, momento difícil e ainda inacreditável. Tenho pensado na morte não só por isso, mas também por outros acontecimentos cotidianos e ocasionalmente o mês de novembro onde lembramos os fiéis defuntos.

É um exercício cristão pensar no fim. A partir dessa meditação nos tornamos pessoas melhores, menos apegadas aos bens terrenos em constante evolução espiritual.

Dois livros tem me ajudado. Eles: Em busca de um sentido de Victor Frankl e Filoteia de São Francisco de Sales.

Victor Frankl traz um pouco de sua história dentro de um campo de concentração, além de sua experiência profissional de criador da Logoterapia (abordagem dentro da psicologia).

Seus sofrimentos e sua face a face com a morte todos os dias diante do trabalho forçado e condições extremas se tornam "suportáveis" quando ele encontra um sentido para tudo isso.

Qual tem sido o sentido para sua vida? Para seus sofrimentos? Para suas perdas?

Essas perguntas vem ressoando em meu coração, e embora muitas vezes me sinta culpada diante de minhas perdas (que não vem somente com a morte), foi e tem sido necessário achar um sentido para tudo e continuar vivendo.

Dei a entender que a vida humana tem sentido sempre e em todas as circunstâncias, e que esse infinito significado da existência também abrange sofrimento, morte e aflição." - Victor Frankl

Filoteia que significa, a alma que ama Deus, traz diversas reflexões através de diversos temas, mas foi o tema da morte o último lido e bem mais meditado.

São Francisco de Sales consegue atingir o mais profundo de nós com perguntas e considerações que realmente nos fazem imaginar e sentir o quão efêmero é nosso trânsito por essa terra.

Ainda estou no começo desse livro, mas ele já me enriqueceu de tal maneira que eu totalmente o recomendo, principalmente para os católicos que querem se aperfeiçoar na espiritualidade do amor à Deus.

Considera a pressa com que será tirado dali esse corpo e escondido na terra e que, feito isso, o mundo nunca mais pensará em ti, nem se lembrará mais de ti, como tu não pensastes nos outros: Deus o tenha em seu descanso - se dirá- e depois tudo acabou."- São Francisco de Sales

Essa frase de São Francisco também me exercita na lembrança dos mortos, na oração pelas almas daqueles que se foram de forma caridosa por tantos que já estão esquecidos no tempo.

Quando lembro da morte, principalmente da minha avó, penso em tantas coisas que estava deixando para outro dia, ou outra oportunidade. Nos achamos imortais, meros seres de areia, que em um sopro desmoronamos.

Não sabemos nem do próximo minuto, e damos certeza para compromissos em um mês ou até um ano.

Não somos absolutamente nada.

Ainda há tanto por passar, mas é com a segurança da fé, é com o sentido dentro do sofrimento e da perda, que conseguimos atravessar, que conseguimos continuar.

Memento Mori - Carpe Diem (lembra-te que morrerás - aproveite o dia). 

#PraCegoVer Mulher negra, idosa cabelos brancos, sorrindo. Minha avó falecida em abril desse ano. Vó Rosa. Saudades.

Quando penso em sofrimento me vem na cabeça uma vontade imensa de fugir, de me esconder. Tal qual quando pequena me escondia no abraço do meu avô. 

Nos últimos meses tenho me deparado com o sofrimento mais de perto. Estando nesse "vale de lágrimas" (que é a vida), é natural que entre temporadas de alegria, as vezes venha a tristeza.

No catolicismo o sofrimento é visto como uma maneira de estarmos mais próximo de Jesus, de se unir a Ele em sua paixão, e por isso, se lermos as histórias dos santos, veremos que eles, os mais próximos de Cristo, são os que mais padeceram. Em suas biografias, vemos também que eles foram as pessoas mais felizes por estarem mais unidas a Ele, como se fossem um só.

Paradoxo interessante esse.

Estar unido à Ele, é estar sofrendo junto Dele, mas somos fracos demais. Instintivos a buscar o prazer e fugir da dor, afinal, quem gostar de sofrer?

Quando não existe uma motivação, realmente, é difícil encarar o sofrimento, mas quando se ama, se sofre com prazer. Podemos ver isso nas mães, que sofrem do primeiro instante de vida do filho, preocupadas com tudo que possa acontecer (ou não acontecer) na vida deles.

Quando se ama, se sofre, mas mesmo assim sempre escolhemos amar. Digo isso porque, o amor dos santos à Jesus, à igreja é tamanho que se sofre o que for necessário inclusive a morte, a tortura, e a humilhação.

Esses dias andei refletindo muito sobre meus trinta anos de vida e sobre tudo que já passei, conquistei, perdi, e aprendi.

Aniversários são ótimos para isso, para podermos rever um pouco das nossas atitudes, pesar na balança como tem sido a nossa vida, analisar mais a fundo nós mesmos.

Fiz grandes avanços. 

Me lembro da Daiane de, sei lá, quinze anos atrás. Acuada, com medo do mundo, tentando loucamente se adequar a ele, mesmo que tudo aquilo que fizesse não estivesse fazendo sentido algum pra ela, lá estava ela tentando ser o mais perfeita possível. Talvez de certa forma isso ainda aconteça vai, mas com uma intensidade menor que na adolescência (acredito eu).

E também tem a Daiane de dez anos atrás. Prepotente, no seu primeiro emprego, com sonhos gigantes que na mente dela eram concretos, teve que aprender que nem sempre as coisas saem da maneira que planejamos, que a vida não é "planejável", e que mesmos os rumos diferentes que a vida nos leva, acaba nos dando destinos fantásticos, ou simplesmente, os destinos que precisamos chegar.

E tem a Daiane de agora, mais consciente de si mesma, dos seus gostos, do que acredita... Evoluindo um pouquinho por dia na sua caminhada em direção ao autoconhecimento, ao amor ao outro e ao amor ao divino.

Desde a infância nos perguntam o que vamos ser quando crescer e acredito que eu nunca realmente soube responder essa pergunta.

Sempre mudei de opinião em relação a mim mesma. Instável, eu sempre estava com uma ideia nova com o passar dos anos.

Fui de Vendedora de Sorvete, à Professora, e depois de Geóloga ou Arqueóloga à Analista de Sistemas e estudante de Engenharia de Controle e Automação, mas, mesmo com o passar de tanto tempo ainda me pergunto o que quero ser. Eu ainda me pergunto o porquê de estar aqui, o que Deus pensou quando me criou, o que Ele quer de mim. 

Com a terapia, começamos a nos conhecer mais profundamente, e esse tipo de questão vem me cercando cada vez mais nas últimas semanas. Embora eu nunca tenha trabalhado em algo que eu escolhi, e tenha estudado algo que eu realmente sabia ser minha profissão, eu sei que Ele tem me colocado nos lugares certos, e estive conhecendo as pessoas certas e colhendo bons frutos dessas relações.

Eu trabalho em uma Unidade Básica de Saúde, e saúde sempre foi a área que eu evitei. Eu nunca tive certeza de muitas coisas na vida, mas uma na qual eu sempre achei ter certeza foi que eu não queria estar perto de pessoas doentes, que eu não saberia lidar com a dor sem sofrer também.

E lá vamos nós em quase 7 anos de trabalho na área. 

E nesses 7 anos de trabalho com gente precisando de cuidados, eu percebi o quanto eu mesma precisava de cuidados, o quanto todos nós precisamos. É nos momentos mais horríveis, mais doloridos que pessoas que trabalham com outras pessoas podem fazer a diferença na vida do outro, e na delas também.

E foi convivendo com outras pessoas totalmente diferentes de mim, que pude ter conexões muito profundas. Fiz realmente bons amigos que acabaram me mostrando muitas coisas boas e me moldando ao que sou hoje com quase 30 anos. E mesmo as pessoas que já não estão mais na minha vida hoje me ensinaram algo. Tudo é uma espécie de "aprendizado", os bons e maus momentos e quem conheci. Agradeço sinceramente a Deus por todas essas histórias, algumas vezes tristes e outras felizes.

Percebi que sou quem eu sou, por causa de cada pessoa, cada situação e cada dia vivido.

E foram nessas situações desde meu primeiro emprego como Recenseadora, enfrentando lugares "inóspitos" que eu comecei a amadurecer ideias e a estar mais em contato com a minha fé e com o mundo.

"Põe um motivo sobrenatural na tua atividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho. - Caminho (359) - São Josemaria Escrivá"

Lembro que nessas épocas eu conversava bastante com meu anjo da guarda (tamanho medo eu tinha de andar por aí sozinha), mas Deus em sua infinita bondade, colocou no meu caminho somente pessoas boas, não tenho o que reclamar.

Depois veio o concurso público, o primeiro emprego como funcionária pública na Biblioteca Municipal, em seguida no CRAS da minha cidade e então na saúde, e foi na saúde onde eu mais sofri e mais evoluí. E foi querendo sair desesperadamente do meu trabalho que eu atirei para todos os lados em busca de algo que me salvasse, aka* fuga. Eu não queria enfrentar a dor tão cara a cara, e até que no meu local de trabalho isso acontece de forma bem mais branda que um hospital ou um pronto socorro por exemplo, mas mesmo assim dói ver os pacientes não voltando, ou descobrindo seus diagnósticos pesados. 

No entanto, muitos pacientes nos fazem um bem enorme, nos fazem sorrir com um bom dia animado, nos contam suas experiências de superação e de fé, e de repente, a cumplicidade com nossos colegas de trabalho e os pacientezinhos que valem a pena, nos fazem ficar.

Me equivoquei por muito tempo tentando me livrar desse trabalho, logo eu que sempre quis de alguma forma ajudar pessoas. Seguir os exemplos de Santa Bernadette, Santa Terezinha e de tantos outros santos que de alguma forma faziam a diferença na vida de alguém. E se eu fizer um dia diferença para uma dessas pessoas que eu atendo todos os dias, para alguns desses meus colegas de trabalho, (em meio ao cotidiano e algumas conversas), eu terei ganhado a vida e terei "sido alguém".

Porque há alguns anos eu achava não ter me esforçado o bastante para "ser alguém", mas, o que é "ser alguém"? Você pode ser tão importante fazendo coisas tão simples todos os dias, que essa expressão hoje não tem mais validade para mim. 

Uma mãe que é uma excelente mãe, uma professora que é excelente em ensinar e sobretudo, pessoas que fazem seus trabalhos com amor são alguém, são diferença.

Eu não vou desistir de encontrar o que realmente me move, mas estou com certeza conseguindo visualizar melhor para que caminhos Deus quer me levar, e também as respostas de todas as orações e pedidos que fiz durante esses anos.

Sei que estou ainda bem distante de ganhar as honras de ter feito o meu trabalho com excelência, mas nos altos dos meus 29 anos, estou começando a compreender que a nossa incessante busca por um caminho termina quando você entende que é difícil ter certeza de quem você deve ser, mas que fazendo o melhor possível por você e pelo outro, o caminho se torna menos árduo, e o destino se torna mais aparente.

Eu ainda não sei o que serei no futuro, mas eu sei que meu trabalho deve ser instrumento divino para que outras pessoas possam se beneficiar dele, leve-me Deus pelos caminhos que levar.

Feliz Dia das Mães à todas as boas Mães desse mundo :)

*aka (ingl.): also known as: Também conhecido como.

#PraCegoVer: Desenho de uma menina, com seu urso de pelúcia, desbravando um caminho solitário e não tão amistoso. Desenho feito por mim :)

Sempre que ia ao trabalho de manhã, principalmente nesses dias mais frios, eu percebia o nevoeiro por entre as serras, e em todas as vezes, minha vontade era parar o carro para fotografar, mas como no cotidiano os horários são apertados, foi em uma manhã de domingo que decidi pegar minha mochila e sair de casa com a intenção de ver o sol nascer.

Coloquei o despertador para as 06h20 crente que o sol nasceria as 7, o que não fazia sentido porque meu horário de trabalho é às 7, e antes das 06h45 quando eu descia a serra próximo de casa ele já tinha nascido. 

Enfim, mesmo com essa "confusão horária", consegui acordar às 05h40.

Não precisei de despertador, e acordei antes do que imaginava acordar :)

Então, eu vestida com meu pijama cinza que dizia, seja positivo (em inglês) e com meu tênis gigante cor de rosa, também usando uma mochila verde musgo desbotada que continha a garrafa de água, o celular, o fone de ouvido, a câmera e o terço, eu saí... Com esse kit comecei o meu caminho.

Estava friozinho às 06h20 quando saí de casa. O sol começava a apontar no horizonte, e eu achava que iria perder o tempo chegando lá no local tarde demais para ver as névoas entre as montanhas, mas segui, afinal, já estava indo.

Fui em oração por uns dois quilômetros, e esperava ver a corujinha que sempre fica em uma chácara por onde eu passo de manhã, mas ela não estava lá.

Após enfim chegar no local, fiquei feliz por conseguir ver o que eu esperava.

Acredito que com o passar do tempo e com os dias estando mais frios, os nevoeiros serão mais frequentes e intensos.

Mas mesmo com um pouco de névoa, a vista estava maravilhosa, então observei por um tempo a paisagem.

Montanha após montanha o mundo se torna um longínquo espaço a ser admirado. As vezes me pego pensando também, que alguém, do outro lado está vendo o sol nascer olhando diretamente na minha direção. Alguém que talvez tenha as mesmas inseguranças, os mesmos sonhos, ou alguém com mais (ou menos) dificuldades... A conexão existe no olhar, na observação... Mesmo de longe.

E é na imensidão que pensamos quanto é bom também nos fazermos companhia. Estar só é muitas vezes assustador e triste, mas em outras tantas é também um carinho. Saber que só você com você mesmo divide alguns momentos... Momentos que ficarão apenas na sua memória, e na de mais ninguém. Porque afinal, os pontos mais importantes da nossa vida passamos sozinhos. Tudo o que sentimos ninguém mais sente, então se dar o prazer da própria companhia deveria ser uma obrigação de todos nós, mesmo que de vez em quando.

Depois dos devaneios e reflexões, e após tirar diversas fotos dessa paisagem (com configurações diferentes na câmera), subi de volta ao caminho de casa, porém, decidi pegar o caminho mais longo (quase morri, mas estou aqui).

Pelo outro caminho fui vendo outras mostras da natureza, belas plantas como esse capim que cresce muito nos terrenos baldios e beiras de estrada. Ele tem essa espécie de pluma vermelha nas pontas... 

Enche campos inteiros e tudo acaba ficando mais belo e poético.

No momento dessa foto, o sol estava contra o campo, e deixava todo o capim brilhante, chamando muito a minha atenção.

Além das flores, animaizinhos do campo também me fizeram companhia.

Essas aqui são algumas das aves da minha tia. Elas vivem soltas assim, na maior tranquilidade, pastando pela estrada.

Fui tirando algumas fotos de longe, porque a partir do momento que fui me aproximando elas se refugiaram de volta ao terreno protegidas pela cerca.

Aqui temos uma vaquinha simpática que enquanto me olhava passando na estrada, estava comendo sua folhagem matinal.

Logo logo o pasto rareia, tudo começa a secar. As estações vão mudando e, enquanto no verão tudo cresce demasiado, no outono e no inverno tudo dá um descanso, um respiro, como dizendo que é hora de conter a velocidade dos passos, e esperar.

Já no final da caminhada, bem perto de chegar em casa, esse pé de caqui me chamou atenção. Estava super carregado. Maravilhoso de tantos frutos laranjas.

Na minha casa (na infância), tínhamos pés de caqui que acabaram secando um tempo atrás. Me lembrei de quanto a paisagem e o mundo vão mudando com o passar dos meses e anos. Não temos controle nenhum sobre isso, mas é bom contar com memórias e fotografias que nos ajudam a lembrar de como tudo era.

Essa casa ao fundo eu também costumava visitar muito por volta dos meus 15/16 anos. A senhora e o senhor que passavam aí o final de semana já morreram há um bom tempo. Me pergunto como eles veriam a paisagem agora...

Cheguei em casa por volta das 08h00 da manhã e decido que devo fazer isso mais vezes. Sair por aí, fotografando, vendo belas paisagens e ouvindo umas músicas boas pelo caminho.

Não editei a primeira foto, pois, achei que ao natural ficou bonito. A receita das outras, foi feita no Lightroom, e eu peguei o passo a passo no Pinterest.

Esse dia me fez pensar em quanto tenho que tentar, (como na fotografia), olhar as coisas por outra ótica, outros ângulos, e tentar enxergar sempre o melhor de tudo. Por mais que eu me perca em vários caminhos, e as vezes fique confusa com muitas coisas, que nós (eu e você, caro leitor), possamos não desistir de continuar a caminhada, e chegar ao destino para ver as lindas paisagens que o mundo nos oferece.

Deixo como final de post essa frase de São Josemaria Escrivá, sacerdote, fundador da Opus Dei, que difundiu o alcance da santidade no cotidiano.

Podemos sim ser santos, no nosso trabalho, nos nossos estudos, no nosso dia a dia...

Tudo se resume no amor meus caros. No verdadeiro amor.

"Às vezes, fala-se do amor como se fosse um impulso para a satisfação própria, ou um simples recurso para completarmos em moldes egoístas a nossa personalidade. E não é assim: amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se. O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria com as raízes em forma de cruz. Enquanto estivermos na terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor. Uma dor que se saboreia, que é amável, que é fonte de íntima alegria, mas que é dor real, porque supõe vencer o egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma de nossas ações." -São Josemaria Escrivá

A quaresma é o período de 40 dias antes da Páscoa, e há muito perdeu-se a essência do preparar-se realmente para a Sexta-Feira Derradeira e o Domingo da Ressurreição.

Na realidade, dizendo sobre mim, a quaresma era um período em que vivia como os antigos sacerdotes e doutores da lei do velho testamento, na prática das regras, mas, sem o sentido mais profundo do tempo quaresmal, que só é realmente vivido depois de, sobretudo, amar aquele que nos amou e entender o motivo por trás de tais práticas.

A Liturgia Católica nos ensina que neste tempo, é necessário despir-nos do homem velho, mudarmos hábitos, deixar-nos penetrar pela bondade e entrega... 

E está aí o segredo. 

Através dos antigos costumes, fazendo-os novamente, ano após ano, e entendendo o motivo de cada prática vamos tomando consciência, e acima de tudo, vamos nos deixando dominar por essa paixão que é o sofrer por Cristo.

Esse ano, tenho um planner litúrgico e devocional, o qual está sendo muito útil para encaminhar e realmente fazer e direcionar minhas práticas. O que nos falta muitas vezes é tirar um tempo para nos planejar e entender o que vamos fazer, só assim teremos o real propósito de fazê-lo.

Eu já disse isso muitas vezes, mas dizendo novamente, é impossível amar o que não se conhece, portanto vamos conhecer agora o motivo de algumas tradições quaresmais.

♡Jejum e Abstinência: Quem nos domina? Com o jejum e a abstinência podemos primeiramente controlar nossas paixões desenfreadas, mortificar o homem exterior, para que o homem interior cresça, e, colocar Jesus no centro de nossas vidas.

O jejum consiste em diminuir o consumo de alimentos durante o dia, (normalmente uma grande refeição e duas menores), e a abstinência é a total retirada de algum alimento, normalmente a carne.

Essa não é uma prática fácil, mas por ser difícil ela é realmente valiosa. 

“Jesus sofre para cumprir a Vontade do Pai... E tu, que também queres cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderás queixar-te se encontras por companheiro de caminho o sofrimento?”-São Josemaria Escrivá

♡Estado de graça: Devemos o ano todo procurar não cometer pecados mortais, mas na quaresma isso é "cobrado" mais intensamente para que as pessoas se arrependam e vejam seus erros procurando realmente mudar.

Novamente me usando como exemplo, digo que a confissão feita realmente com a intenção de mudança de vida nos faz refletir muito mais antes de tomarmos decisões e nos faz refletir também sobre quem estamos sendo.

É o momento de abandonarmos nossas amarras com o pecado e iniciarmos de forma leve nosso período quaresmal.

♡Mortificações:  A mortificação tem como fim matar dentro de nós o orgulho, e as paixões exageradas por coisas mundanas e então dar espaço ao único e verdadeiro bem que é Cristo. Tive contato com o termo esse ano. Como sigo muitos católicos na internet sempre estou "por dentro" de termos e práticas necessárias para cada tempo litúrgico. Então fui pesquisar o que era literalmente mortificar-se.

Na verdade, nada mais é que tirar algo que nos agrada, por exemplo, o uso do celular. 

Que tal reduzir ou então retirar o celular nessa quaresma? Sobra mais tempo para rezar e fazer algo de bom para alguém por exemplo.

Existem vários tipos de mortificações, mas qualquer uma que você planeje fazer nessa quaresma (ou em algum outro tempo) é valiosa pois nos faz abdicar de algo que nos remete a esse mundo e voltar os nossos olhos para o celestial.

"Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me."-Mt 16, 24

"Os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?’. Responderá o Rei: ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.’" -Mt 25, 37-40

Além de todas essas práticas vale lembrar da oração constante. É bom manter uma rotina de orações e leitura dos textos bíblicos diários. Também, a leitura de livros que nos aprofundem ainda mais nesses dias é o ideal.

Vivamos esse tempo meditando sobre a paixão de Cristo, seu sofrimento, sua morte de cruz... O sentido quaresmal é muito amplo, mas só conseguiremos entender de fato, quando estivermos unidos nesse amor e imitando um pouco do que Ele fez, talvez chegaremos a sentir um pouco desse amor e então entender o significado de tudo isso.

#PraCegoVer: Flor como uma margarida, levemente alaranjada, exibe ao fundo várias delas. Entre folhas verdes escuras temos réstias de luz que invadem a imagem.

Excepcionalmente em uma sexta-feira, dia em que celebraríamos a paixão e morte de Cristo, estamos celebrando o nascimento e vida do menino que veio para nos dar a luz.

Ontem fui à missa da minha paróquia, e lá estaria novamente, não fossem as novas regras para manter os distanciamentos. Embora injustas, já que não se aplicam a outros locais muitos mais aglomerados que igrejas, acredito que seja uma forma de refletirmos mais sobre o que esse dia está nos ensinando.

Nos momentos mais cruciais do nosso calendário litúrgico, onde certamente estaríamos juntos celebrando, estamos (de certa forma), fadados a estarmos distante da igreja e fazendo por nós mesmos esses ritos. Quando antes tínhamos acesso livre a todas essas missas, não dávamos o valor necessário a cada dia dentro da igreja, a beleza dos sacramentos e da importância da eucaristia.

Esse foi um ano difícil para todos. A pandemia, as perdas, o distanciamento da igreja... Tudo isso nos pegou de surpresa, mas nos mostrou o quanto tudo é precioso. E foram exatamente todos os momentos difíceis e todas as situações de medo que nos fizeram apegar mais as coisas do alto, ou ao menos termos um mínimo de esperança. 

As vezes é preciso um "chacoalhão" da vida, para que então possamos ver o que realmente é valioso.

No dia em que lembraríamos a morte, lembramos mais fortemente a vida, o nascimento.

"O povo, que andava nas trevas, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu."

Esse versículo nos diz muito em relação do plano divino na vida de cada um de nós. Embora muitas vezes o desespero venha, é nesse momento de trevas em que a luz vem para nos guiar. É nesse instante que a luz se faz mais presente.

O dia do Natal deve ser um dia de alegria, não nos lembrando de todas as dores que sofremos, e todas as pessoas que perdemos, mas sim agradecidos pelas alegrias vividas, todos que estão a nossa volta e que um dia já participaram conosco desses momentos. 

Na manjedoura de Belém estava Jesus, acompanhado de sua mãe Maria Santíssima, e São José, além dos pastores e dos reis magos. Os animais estavam ali aquecendo e fazendo companhia. Não estavam todos da família, os amigos, os conhecidos... Estávamos como nós hoje, isolados em nossa própria família. E existe algo mais belo, do que podermos estar com aqueles que amamos?

Jesus tão pequenino já era perseguido, já sofria com a pobreza e o frio... Acha mesmo que ele não entende todos os nossos sofrimentos?

Em uma sexta-feira, Maria sofria ao ver seu filho na cruz, mas hoje lembramos da alegria por ela sentida ao vê-lo em seus braços ao nascer.

E eis que a morte, se mostra também como forma de renascimento e vida, um verdadeiro paradoxo na maneira de enxergar cada passo em nosso caminho.

Em meio a todos esses acontecimentos, deixemo-nos levar pela imensidão do amor de Cristo, que veio até nós para enfim vermos a grande luz, neste mundo repleto de trevas e a escuridão. E que esse Natal, mais fiel ao primeiro Natal celebrado, ensine a todos nós o valor do que é mais importante, a família, a simplicidade e a fé. Principalmente a fé diante das adversidades.

Um Feliz e Santo Natal a todos!

Que Deus os abençoe!

"E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. [...]

E amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados.

Amados, se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros." - 1 Jo, 4, 7b e 10-11

"O Senhor, porém, lhe respondeu: Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” - Lc 10, 41-42.