Hoje comemoramos o dia de São José, pai adotivo de Jesus (ou talvez possamos dizer que Jesus o adotou como pai, sendo que o escolheu). E nesse dia lembramos também a carta apostólica Patris Corde, escrita pelo Papa Francisco, que vigorou no dia 08 de dezembro de 2020, em ocasião da festa de 150 anos da proclamação de São José como patrono da igreja, determinando que o ano de 2021 seja inteiramente dedicado à ele.

José é descrito no evangelho como um homem justo. Ele não tem muitas falas nos textos bíblicos e por isso é também lembrado por nós como "homem do silêncio", que tudo suportou por amor.

Na ocasião em que planeja deixar Maria, ele o faz por sentir que existe algo sobrenatural, embora ele não soubesse bem o que era exatamente, tinha a ciência da grandiosidade da missão que o esperaria.

Ele também é exemplo de pai sempre tomando o melhor caminho para proteger Jesus, não o caminho mais fácil, mas o caminho necessário, o caminho prudente. Jesus não precisaria de um pai humano, mas Deus assim desejou e foi na carpintaria de José que Jesus cresceu em estatura, graça e sabedoria.

Devemos imitar São José em seu exemplo de amor, entrega e disponibilidade no qual dedicou a vida no serviço de criar e amar Jesus da melhor maneira possível, o salvaguardando e o apoiando durante seu crescimento.

É o patrono da igreja e, sendo o padroeiro da capela de meu bairro, sempre nutri por ele um carinho especial. Infelizmente é o segundo ano consecutivo em que não pudemos celebrar sua festa, por conta da pandemia que assola nosso país.

Isso me fez refletir um pouco sobre como São José em sua vida de atribulações e perigos reagiu a tudo. Quando Maria estava prestes a dar a luz, e as portas iam se fechando em sua frente ele não desistiu embora tudo mostrasse uma faceta pessimista. Eles persistiram e enfim conseguiram um espaço, que não era exatamente o que esperavam, mas foi providencial.

Ali nascia o Verbo, no meio da humildade, mas em um ambiente de muito cuidado e amor.

"Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como 'o filho de José'."-Papa Francisco

 

Acredito que se aqui estivesse a Sagrada Família, diante de todos esses acontecimentos, se recolheriam em seu silêncio, entrariam em oração profunda e esperariam a misericórdia de Deus, e sua providência.

Ninguém é desamparado quando tem fé, e vemos isso profundamente na história do pai de Jesus e Santo esposo de Maria. 

A imagem de José dormindo nos lembra disso, dos sonhos que Deus mandava para alertá-lo dos perigos que se aproximavam. José apenas confiou. Acredito que hoje mensagens nos são dadas, avisos nos são mostrados todos os dias mas nós, com os olhos cerrados, não conseguimos enxergar.

Somos chamados a como São José estarmos prontos a agir, a olhar mais profundamente a tudo que nos é alertado durante nosso dia a dia e através de nossas boas obras, de nossas orações, de nosso sim diário (mesmo diante dos sofrimentos ou dos temores), estarmos sempre juntos de Jesus, zelando para que Ele seja conhecido e amado.

Olhe essa pintura:

Rembrandt, óleo sobre tela, 1645

Se observarmos essa imagem de forma rápida vemos Maria cuidando de Jesus. Ela lê enquanto olha para o menino dormindo no pequeno bercinho. Vemos anjos pairando sobre os dois.

Podemos nos atentar a vários detalhes, como as cores nas roupas, o fogo aceso, o manto sobre o berço...

Mas poucas pessoas conseguem ver São José nessa imagem. 

Sim, ele está na penumbra, atrás de Maria, trabalhando com a madeira. Inclusive, eu mesma, da primeira vez que vi essa pintura não percebi São José. Quem propôs esse desafio foi o perfil Raposo Católico, no Instagram.

Essa é uma pintura de Rembrandt, (pintor holandês que me inspira muito com suas sombras e formas), que se chama Sagrada Família Com Anjos, pintura essa de 1645.

São José é aquele que está lá a todo momento. Despercebido, muitas vezes esquecido, ele não se esquece de cada um de nós. Ele é fundamental. 

São José embora seja depois de Maria o maior santo da igreja, só foi considerado nosso patrono a 150 anos atrás. Ele permanece na humildade até hoje, mostrando que o caminho é o silêncio e a oração. Sua presença em alguns momentos não é notada, mas se faz necessária, como diz o texto da novena que estive rezando esses dias: "[...] Senhor, quem sou eu para me atrever a comparecer diante de Vossa presença? Conheço a deficiência de meus méritos, e a multidão dos meus pecados, pelos quais não mereço ser ouvido em minhas orações, mas o que não mereço, merece-o o pai nutrício de Jesus; o que não posso ele pode. [...]".

E realmente, após todo amor empregado na criação de Jesus, após seu exemplo como pai, homem e ser humano, ele pode nos ajudar a vencer os desafios diários, e a  partir de seu reflexo nos incentivar  a nos tornarmos pessoas como ele... Pessoas que passam despercebidas, mas que são essenciais neste mundo.

Ide à São José, Ele vos ajudará!

"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"

 

Falar da vida de Padre Pio é falar do extraordinário. 

Quando eu lia sobre ele, (alguns episódios de sua vida na internet), eu ficava maravilhada com tantos milagres e acontecimentos fora do comum.

Recebi esse livro no mês de maio de 2020, considerei um presente de aniversário, e pouco após recebê-lo comecei a ler. A cada página da vida de Francesco Forgione, (o Padre Pio de Pietrelcina), fui me apegando e estando mais próxima dele.

Padre Pio, nasceu em Pietrelcina, Itália, em 25 de maio de 1887. Era de uma família grande e simples, e desde pequeno tinha dons sobrenaturais, os quais ele imaginava que todos tinham acesso, pois para ele, ver anjos, Maria e o próprio Jesus, por exemplo era algo natural.

Deus, tem um propósito a cada um de nós, e com Padre Pio não era diferente. Pessoas fundamentais foram cruzando o caminho dele e propiciando ainda mais o crescimento da sua santidade.

A vida dele também foi pautada no sofrimento.

Sua saúde sempre foi muito frágil e muito dependente da graça divina, que por diversas vezes através dessas dolorosas provações, mostrava a ele o caminho que deveria seguir. Ainda enquanto frei, com seus 21 ou 22 anos, tinha irritabilidade intestinal e estomacal e vomitava por semanas todo o alimento que consumia. As vezes ele era mandado de volta à casa de sua mãe com o intuito de se recuperar, e mesmo os médicos sendo chamados, nunca lhe foi descoberta a causa das suas doenças.

Tão rápido a doença lhe vinha, subitamente ela desaparecia.

"As pessoas não devem imaginar que seus infortúnios sejam enviados como punição divina. Quando alguém lhe perguntou se um homem que morrera em um acidente fora punido por Deus, Padre Pio disse: 'A punição por nossas ações é como nossa recompensa: só a teremos na eternidade.'"

Padre Pio era famoso também por acontecimentos extraordinários envolvendo bilocação. 

A bilocação é a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo, não propriamente de forma física mas de uma forma em que possa ser visto e muitas vezes "sentido".

Numa noite, cerca de 650 quilômetros do lugar onde Pe. Pio estava, uma mulher cristã, rezava próxima da cama de seu marido moribundo, que era maçom e tinha a casa cercada por vários deles que impediam a entrada de qualquer padre.

A Sra. que se chamava Leonilde, rezava exatamente para que algum padre pudesse ver seu esposo, pois não queria que ele morresse daquela forma e desamparado espiritualmente. De repente ela vê no quarto um hábito capuchinho, e sem ver com exatidão o rosto, tenta se aproximar, mas ele desaparece. Leonilde que estava grávida, deu a luz naquela mesma noite à uma menina chamada Giovanna. Após os guardas lutarem para que o padre que estava na entrada conseguisse passar, Leonilde com a menina nos braços chega até o quarto de seu marido, deposita a criança do seu lado, e assim que o padre entrou, o pobre senhor exclama pedindo à Deus perdão dos seus pecados, e morre. Leonilde então, se mudou com Giovanna para Roma, e um dia, a jovem moça, quando estava na Basílica de São Pedro decidiu confessar-se. Ao entrar no confessionário lá estava um padre capuchinho, e ao esperá-lo sair, Giovanna não mais o vira. Questionando o guarda sobre o paradeiro de seu confessor, tomou um susto ao saber que não havia nenhum capuchinho por ali. Um ano depois em meio à multidão, novamente em Roma, Padre Pio foi de encontro com Giovanna, que dizia não conhecê-lo, e ele respondeu que a conhecia. Que tinha sido seu confessor há um ano atrás, e ela, a menina que nasceu no mesmo dia da morte do pai.

Além da bilocação, que já é algo indescritível, devo com a absoluta certeza mencionar os estigmas, mas primeiramente devemos entender que não é qualquer pessoa ou santo que recebe essa graça. Quanto mais uma alma se intensifica na oração, mais ela se une a Deus, até certo ponto que é como se seu coração e o de Cristo se tornem um. Podemos dizer que assim aconteceu à Padre Pio. 

No ano de 1910, ele recebeu de Cristo feridas nas mãos, pés e do lado tal qual Jesus tinha em sua Paixão e Morte de cruz.

As feridas lhe causavam vergonha, ele costumava usar luvas e escondê-las. Dessas feridas vertia-lhe tanto sangue que nenhum médico foi capaz de explicar como ele continuava vivo. Várias especulações envolviam os estigmas, e muitos pensavam que ele causava as próprias feridas. Estudos posteriores, no entanto, desmentiram essas especulações visto que, essas feridas não eram causadas nem por doenças, nem por qualquer material terrestre.

Vale salientar que os estigmas eram acompanhados de dores profundas, as quais muitas vezes o faziam andar de forma vacilante. Em 1966 as chagas começaram a desaparecer, em 1968, no instante de sua morte, não constatou-se nenhuma cicatriz nos locais aonde haviam os estigmas, o que seria impossível em feridas que ficaram abertas durante 56 anos.

"Muitas pessoas buscavam alguém que estivesse realmente próximo de Deus, alguém que tivesse respostas para os problemas da vida. Insatisfeitos com os ensinamentos vagos e relativistas dos filósofos seculares e das doutrinas herméticas e vacilantes dos teólogos acadêmicos, buscavam alguém que lhes falasse claramente, que lhes dissesse como viver e como conhecer a Deus. 
Queriam que alguém lhes mostrasse que havia um Deus, que a vida tinha sentido e que existia para além dela. Agora surgiam rumores de um sacerdote que carregava as chagas de Cristo em seu corpo. Nas mentes de muitos italianos, os estigmas eram um sinal certo da intimidade divina. A pessoa que os carregasse seria alguém a quem poderiam se voltar em busca de respostas."

Além de conviver durante praticamente toda sua vida com doenças e com os doloridos estigmas, Padre Pio era frequentemente atormentado pelo demônio. Além da capacidade de ver bons seres sobrenaturais, os maus também o cercavam. Chegou a apanhar fisicamente de um deles, e quem constatou o fato dizia ser impressionante os barulhos que se podia ouvir. Muitas vezes esses seres o tentavam enganar se passando por seus superiores e colegas de convento. Tudo isso ele suportou graças a força divina, e o apego à Virgem Maria.

Esse apego e essa fé abundante eram sentidas também por quem estava perto, muitas vezes de passagem, e por quem o conhecia pessoalmente.

Suas confissões e missas sempre mudavam seus fiéis, por serem tão profundas e tão verdadeiras. Ele realmente tinha Cristo à seu lado o tempo todo. Muitos o buscavam para aconselhamento, e muitos incrédulos se tornavam fiéis após a sua confissão. Ele tinha a capacidade também de auxiliar o fiel a lembrar de seus pecados. Um caso curioso é que em meio a segunda guerra mundial, Pe. Pio recebera a visita de vários soldados americanos, e mesmo sem saber inglês conseguia entender e se fazer entendido por eles.

Ele era o grande pai espiritual que abrigava todas as almas padecentes e fazia com que elas encontrassem abrigo e uma direção a seguir.

Padre Pio dizia: "Somente rezo, Deus é quem cura", lembrando assim a todos sua função de orar e pedir pelos que mais precisavam.

"No caminho de volta, perguntei ao motorista, com quem estava sentado na frente do jipe: 'O que está pensando?'. Ele respondeu: 'Padre aquele homem fez algo comigo. Não posso explicar.' Houve um silêncio mortal em todo o caminho de volta a base. Suponho que alguns psicólogos explicariam isso como algum caso de experiência extra-sensorial, porém não creio nisso. Creio que foi algo sobrenatural.
Pe. Saint John se convenceu, com esses episódios, que Padre Pio tinha o dom daquilo que chamou de prescrutatio cordium, ou a capacidades de ler corações."

Ele, com a ajuda de doadores, contribuições, e principalmente da providência divina, fundou o hospital La Casa Sollievo della Sofferenza ( A Casa do Alívio do Sofrimento), que prestou, e ainda presta, ajuda a quem não pode pagar tratamentos médicos. Hoje esse hospital é administrado pelo Vaticano e desenvolve diversas pesquisas científicas.

Embora todos os relatos extraordinários fizessem parte da vida de Pe. Pio, ele era extremamente modesto, submisso a todos, e nas diversas vezes que fora humilhado, permaneceu resignado a cumprir a vontade de Deus sem se exaltar.

Quem convivia com ele dizia que ele era extremamente feliz, extremamente caridoso, gostava de fazer piadas e pregar peças em seus irmãos capuchinhos. 

Quando então educador do Colégio Seráfico do convento, encantava os alunos que assistiam as aulas boquiabertos com tamanho acolhimento e educação. Ele era um ser totalmente humano, no real sentido da palavra.

A vida de Pe. Pio nos ensina que Deus chama a cada um de nós a vivermos a santidade de modo mais pleno possível, mas depende de nós nos jogarmos sem olharmos para trás e confiarmos Nele apesar de todas as adversidades que virão no caminho.

Li em algum lugar (ou posso ter ouvido em alguma pregação), não me recordo agora, mas dizia que Pe. Pio, é uma daquelas pessoas que Deus manda à Terra de tempos em tempos, a fim de que se reanime a chama da fé que está se apagando nos homens, de forma com que voltemos a acreditar no sobrenatural, e tenhamos uma referência de santidade mais próxima de nós.

São Padre Pio de Pietrlcina morreu em San Giovanni Rotondo, Itália, em 26 de setembro de 1968, em odor de santidade, e hoje encontra-se exposto na mesma cidade em que morreu, para a veneração dos fiéis.

"Lucia Fiorentino, enquanto estava doente de tuberculose em 1906 teve uma visão na qual viu uma gigantesca árvore se enraizar no convento de San Giovanni Rotondo. [...] Vira uma árvore tão grande e bem enraizada que poderia cobrir todo o mundo com sua sombra. Qualquer pessoa que tendo fé, se refugiar sob essa árvore, tão bela e cheia de folhas, receberá a verdadeira salvação, e quem a desprezar e ridicularizar será ameaçado de punição por Jesus. [...] A árvore em sua visão era o próprio Padre Pio, o qual, vindo de longe, por vontade divina, plantou suas raízes no convento."

#PraCegoVer: Livro de Padre Pio sobre a cama. O livro está aberto e contem um terço pequeno (dezena) e o ícone de Padre Pio, já idoso.

"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"

 

Santa Bernadette tem sido meu modelo de vida há muito tempo, bem antes de 2017 quando eu intensifiquei meus estudos sobre teologia.

A conheci em um filme que encontrei no Youtube. Esse filme é de 1987, e conta a história de vida dela e sobre as aparições marianas em Lourdes, e foi então que comecei a saber mais sobre essa jovem que entregou tudo à Deus.

"Na véspera da partida para Nevers, Justine, filha de sua ama-de-leite, Marie Lagües, vai encontrar Bernadette:
'Você não fica triste por ir embora?'.
'O pouco tempo que temos no mundo, é preciso que o empreguemos bem.'"

Marie Bernard Soubirous, nasceu em Lourdes na França, em 07 de janeiro de 1844, tinha seis irmãos e era a mais velha deles.

Eles eram uma família muito pobre. Seus pais, Louise e François trabalhavam no que podiam para ganhar seu sustento. A mãe como lavadeira e passadeira, e o pai na moenda de trigo. Nossa pequena Marie tinha asma, e sofria muito com os gelados invernos franceses, além do que na época o tratamento para esse tipo de doença era muito precário. Ainda assim, era paciente e calma, tal temperamento fleumático que tinha, sempre pronta a ajudar, sem reclamar, e sem se exaltar pelos seus problemas.

O pai de Bernadette não era agraciado com muita sorte. Chegaram ao ponto de ir morar em uma antiga cela de prisão. Um cômodo pequeno dividido entre todos eles. Úmido e frio, Bernadette padecia por conta de seus problemas pulmonares.

Essa menina aos 13 anos fazia de tudo para ajudar os pais, auxiliando no pastoreio de ovelhas ou em outros trabalhos, mas seu problema com a asma sempre a atrapalhava. Ela tentou aprender as orações, mas era analfabeta e tinha dificuldades de absorver o conhecimento que os outros lhe passavam. Tudo que aprendeu sobre o catolicismo foi dentro da família, que tinha uma grande fé e sempre estavam em oração.

No dia 11 de fevereiro de 1858, Bernadette, foi com mais duas meninas, uma delas sua irmã, até Massabielle (pedra velha) para apanhar a lenha que deveria ser vendida para comprar pão. Essa gruta era cortada por um rio, Dona Louise pedira a Bernadette que não o atravessasse, por conta de sua asma, senão ela molharia os pés e isso poderia piorar o quadro asmático. Então a princípio, ela procurou lenha próxima da onde estava. No entanto ela sentiu um vento que balançava o seu lenço na cabeça. Devemos lembrar aqui que algumas passagens bíblicas trazem o vento como representação do próprio Espírito Santo. Voltando à Bernadette, após sentir o sopro desse vento, ela olhou para a gruta, onde viu uma moça, de aparentes 12 anos, que tinha vestes brancas e a cintura envolta por um laço azul. 

A moça pegou o rosário, o que fez com que Bernadette também pegasse o seu, mas a moça em questão somente passava as contas, enquanto Bernadette fazia as orações. Isso tem muito sentido, pois, sendo a própria Virgem Maria, não rezaria para ela mesma, e sim apenas incentivou a oração.

Bernadette não contou a ninguém sobre isso, e decidiu não contar a sua mãe também, mas sua irmã, a que esteve com ela na gruta, contou à Louise, que então a castigou.

A pequena havia prometido voltar à gruta, e voltou duas semanas após esse fato. Nessa aparição, ela cavou a terra, e bebeu da água que milagrosamente brotou do lugar indicado pela Virgem de Lourdes. Muitas curas foram relatadas a partir de então. Curas estas, inexplicáveis.

Tem um caso interessante de um senhor cego de um olho, que ao lavar os olhos com a água de Massabielle retornou ao seu médico dizendo estar enxergando. O médico dizia ser impossível, pois aquele olho era totalmente comprometido. Ao fazer testes, chegou-se a conclusão que ele realmente enxergava. 

O pároco da localidade era totalmente cético às aparições, e quando Bernadette a pedido de Nossa Senhora, foi pedir a ele uma capela na gruta de Massabielle, em resposta recebeu que só concederia esse pedido, quando a moça dissesse quem era.

Foi então que Bernadette, se lembrando do que o pároco havia imposto, pediu à aparição que ela dissesse seu nome, então ela disse no dialeto gascão: "Que soy era Immaculada Councepciou."

O dogma da Imaculada Conceição havia sido decretado pouco tempo antes, em 8 de dezembro de 1854, pelo Papa Pio IX, mesmo a festa já sendo comemorada desde 1477. Esse dogma diz que Maria foi concebida sem pecado original, para que pudesse gerar Cristo, o próprio Deus. Ela foi escolhida desde antes de nascer, e portanto concebida em estado de graça e vivendo nesse estado durante toda a sua vida.

Bernadette, analfabeta e que não havia feito a catequese, não fazia a menor ideia do que a moça quis dizer ao se chamar Imaculada Conceição, e para não esquecer foi repetindo pelo caminho até a casa do pároco. Quando lá chegou, disse imediatamente: "eu sou a Imaculada Conceição". O padre ficou assustado. Primeiro, porque achou que ela se referia a ela mesma, e depois sabendo que ela havia informado o nome da moça que ela via, ficou mais assustado ainda. Não teria como Bernadette ter inventado isso da própria cabeça, além disso, o dogma da Imaculada Conceição era mais conhecido na época entre o clero.

Após esse fato, o padre passou a acreditar em Bernadette. O problema é que o governo francês não estava tão contente com toda essa peregrinação até Lourdes, e mandou que se fechasse a nascente em Massabielle cobrando multa de quem desobedecesse a ordem. Porém, após insistentes pedidos da Imperatriz Eugene, ao Imperador Napoleão III, a gruta foi reaberta à público.

Muitas foram as acusações e provações que a menina teve de passar. Ela foi analisada por médicos, psiquiatras e investigada pela polícia. Todas essas investigações atestaram a sanidade mental plena da pequena Soubirous.

O bispo de Tarbes fez a seguinte declaração à respeito dos fenômenos relatados em Lourdes: "Inspirados pela Comissão composta por sábios, doutores e experientes sacerdotes que questionaram a criança, estudaram os fatos, examinaram tudo e pesaram todas as provas. Chamamos também a ciência, e estamos convencidos de que as aparições são sobrenaturais e divinas, e que por conseqüência, o que Bernadette viu foi a Santíssima Virgem Maria. Nossas convicções são baseadas no depoimento de Bernadette, mas, sobretudo, sobre as coisas que têm acontecido, coisas que não podem ser outra coisa senão uma intervenção divina."

Após a construção da igreja e o término das aparições (que totalizaram-se 18), Bernadette decidiu dedicar sua vida à Deus, e com 22 anos ingressou no noviciado. Um ano e três meses após, em outubro de 1867, fez sua profissão de religiosa na Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers. Viveu seus últimos anos como se nada de extraordinário tivesse acontecido em sua vida, como se ela tivesse que diminuir-se, tornando-se menor que as pessoas que viviam junto dela.

Com 35 anos, em 1879, após complicações causadas pela tuberculose, morreu proferindo as palavras: "Ó minha senhora, eu vos amo. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por mim."

Décadas após a morte de Bernadette, seu corpo foi exumado e encontrado incorrupto. Muitos milagres inexplicáveis ocorreram através de sua intercessão, e em 1933, pelo Papa Pio XI, foi elevada à glória dos altares.

A Imaculada Conceição, no principio das aparições,  proferiu uma frase que foi o norte de Bernadette durante toda sua vida, até o último instante:

"Não lhe prometo a felicidade neste mundo, somente no próximo".

 

Acredito que Bernadette conseguiu levar essa promessa como certa em cada momento de sua vida. Isso nos inspira, que durante as dificuldades e perseguições que nós nesse mundo sofremos, esperemos então o cumprimento dessa promessa. 

A felicidade desse mundo é ilusória, nada é realmente perfeito. As pessoas não são realmente o que esperemos que elas sejam, porque somos todos humanos falhos e cheios de maldade impregnados dentro de nós.

Mas a possibilidade de felicidade plena e eterna existe, e ela só existe em Deus e somente no outro mundo, onde poderemos experimentar então o descanso e a paz.

Com o exemplo de humildade e mansidão de Santa Bernadette, que nós, cheio de falhas possamos seguir um pouco mais do que ela dizia dela mesma. Ao ser interrogada sobre o preço de suas fotos serem suficientes, pois eram vendidas a 1 franco cada, ela responde: “Mais do que eu valho”.

Como diz Padre Paulo, o segredo de Lourdes certamente é Bernadette.

"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"

"Consideremos nossa alma como um castelo, feito de um só diamante ou do mais límpido cristal, onde existem numerosos aposentos, assim como no Céu há muitas moradas. No centro, no meio de todas as moradas, está a principal, que é onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma. Talvez agrade a Deus que, por meio desta comparação, vos possa eu dar a entender algumas das graças que se digna o Senhor conceder aos seus. Vejamos como haveremos de fazer para penetrar no interior desse castelo."

Desde 2017 quando comecei a estudar mais teologia, o nome de Santa Teresa D'Ávila era citado por diversos padres e estudiosos da área (e de fora dela), pelos seus escritos de valor ímpar. Mas quem foi Santa Teresa D'Ávila?
Teresa nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, numa família firmemente cristã. Junto com seu irmão, desde pequenos já almejavam o martírio (morte pela igreja), inspirados em outros santos mártires.
Quem os impediu aos 7 anos de cometer tal ato, foi um tio, que vendo que iriam até as muralhas, os deteve.
Em 1535 entrou para o Carmelo e após um problema de saúde que quase tirou-lhe a vida, fortaleceu-se na fé e começou a ter revelações divinas. Muitos a julgavam louca, imaginativa demais, ou que as coisas que ela sentia ou via eram malignas, mas com muita força superou tudo isso e começou a escrever sobre como entendia tudo que lhe estava acontecendo.
Percebendo que sua alma pedia mais rigor na vivência da fé, começou então reformas no modo de vida carmelita com a ajuda de São Pedro de Alcântara, embora tenha tido muitas dificuldades, conseguiu a permissão para infundir uma vida mais austera, como a dos primeiros cristãos.
Nessa época, conheceu Frei João, que hoje é conhecido como São João da Cruz, doutor da igreja. Eles se tornaram amigos, e por terem ideias parecidas a respeito da vida monástica se apoiavam.
Por denúncia, os escritos de Santa Teresa foram examinados pelo tribunal do Santo Ofício, tribunal esse que investiga casos de heresia, enganações e outros . O livro em questão não é o do título dessa postagem, mas outro, chamado O Livro da Vida. A inquisição não queria que esse livro chegasse a outras irmãs carmelitas sem antes tê-lo aprovado. Inclusive um outro livro que ela escreveu na época, para que fosse liberado pelos inquisidores, foi examinado por um frei, amigo dela, por precaução, pois, mulheres não podiam citar a Bíblia, por exemplo, então citações do tipo deveriam ser retiradas para que ela pudesse publicar a edição sem que houvessem objeções.
O povo da época a acusava de heresia, e as perseguições se tornaram mais fortes com o passar do tempo.
Após anos de sofrimento, o Tribunal do Santo Ofício a julga inocente de todas as acusações e ela é liberada para terminar a reforma carmelita com a abertura de mais de 32 mosteiros durante sua vida.
No ano de 1970, o Papa Paulo VI a reconhece como doutora da igreja, umas das 4 doutoras até então.
A história de vida dessa Santa é bem mais extensa, mas por hora vou falar de uma de suas obras, a que tive o prazer de ler por duas vezes, o meu segundo livro desse ano.
Em Castelo Interior, Santa Teresa compara nossa alma com um castelo, com 7 moradas. Na sétima morada encontra-se o rei (Jesus), porém para se chegar até essa morada é necessário muito sacrifício, muito sofrimento, e muita entrega.
De morada em morada ela descreve as dificuldades que a pessoa passa, para poder adentrar em outro aposento.
Nas primeiras moradas é mais usual que a alma que esteja almejando progredir esteja não tão profundamente ligada ao rei da sétima morada, e isso faz com os que, Santa Teresa chama de "animaizinhos", perturbem muito mais do que nas moradas em que o contato com o rei é mais próximo.
Esses "animaizinhos" são tudo o que te tira a vontade de persistir até a sétima morada. Aqui podemos entender como tentações ou propriamente demônios, eu interpretei como na segunda forma, embora as duas estejam corretas.

"Aqui, ainda se trata de pessoas embebidas no mundo, engolfadas nos contentamentos e deslumbradas pelas honras e pretensões; seus vassalos interiores, que são os sentidos e as potências, não estão revestidos da força que Deus lhes outorgou, originariamente; por isso com facilidade são derrotados, embora andem com desejos de não ofender a Deus e façam boas obras."

Nas últimas moradas já se recebem as graças. Aqui os já santos e santas, não são mais importunados pelas tentações, já que a alma está tão entrelaçada ao rei que nada mais nesse mundo chama sua atenção.
Nessas moradas o sobrenatural é muito presente, e a alma muito forte.

"Aqui é de outra maneira. Quer já nosso bom Deus tirar-lhe as escamas dos olhos e dar-lhes a ver e entender parte da graça que lhe concede, conquanto de modo estranho."

No mapa que recebi junto com o livro, vê-se claramente a ligação entre as escrituras e as moradas o que comprova a origem benéfica dos escritos, embora isso nem deva ser questionado, visto que após tanto tempo e sendo nomeada como doutora da igreja, isso seja indiscutível.
Além da evolução das moradas é necessário salientar que Santa Teresa utiliza comparações que nos fazem entender melhor como tudo se envolve e com isso nos faz compreender mais profundamente a dinâmica da alma em contato com o divino.

"Por isto, tomai meu aviso: se achardes de sua parte qualquer resistência, não insistais, porque o desgostareis, de maneira que nunca vos deixará entrar nelas. É muito amigo da humildade. Se vos tiverdes por indignas de merecer o ingresso ainda nas terceiras moradas, mais depressa lhe movereis a vontade para vos admitir nas quintas..."

Vale muito a pena ler esse livro, principalmente para quem pretende intensificar sua vida espiritual, tamanho tesouro é para a edificação da alma e para conhecimento teologal. Como diz parte de uma oração que Santa Teresa escreveu: "Só Deus basta. Nada te perturbe, nada te amedronte. Tudo passa, a paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta. Só Deus basta!", precisamos estar em contato com Deus se quisermos passar pelas adversidades com um esteio. Como ela que passou por todas essas moradas, que nós, inspirados em sua vida de fé possamos também seguir pelo bom caminho rumo ao rei que se senta na sala mais preciosa.
Deixarei aqui alguns links para compra, porém, essa edição da foto faz parte de um clube do livro chamado Minha Biblioteca Católica, talvez em breve eu escreva algo sobre eles aqui no blog. Por hora deixo links da edição que eu li antes de adquirir a assinatura do clube.

♡ Submarino - As Moradas do Castelo Interior
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♡ Amazon - As Moradas do Castelo Interior - ebook


#PraCegoVer:  Imagem do livro Castelo Interior, de capa dura, verde, com letras douradas. Minha mão o segura. No fundo uma parede branca.

Confesso que se hoje escrevo aqui sobre eles, é porque nos últimos dias ouvi falar muito sobre a relação entre os pequenos pastorinhos de Fátima, a gripe espanhola e a covid-19.
Sempre fui uma "estudiosa" de aparições marianas antes de me interessar por teologia no geral (aqui temos uma enorme prova de que Ela nos leva até seu Filho), e nesses estudos, principalmente os dos fenômenos em Fátima, acabei pegando ganchos teológicos que poderia explorar, porém não tinha me atentado à esse fato na época, principalmente da causa da morte dos videntes. Se pegarmos a linha cronológica da vida desses dois santos, já podemos perceber o momento histórico e datas curiosas em meio a biografia dos dois.
Jacinta de Jesus Marto, nasceu em Aljustrel, Fátima em 05 de março de 1910. Filha caçula de Manoel Pedro Marto e Olímpia de Jesus dos Santos, foi providencialmente batizada no dia 19 de março de 1910.
Francisco de Jesus Marto nasceu também em Aljustrel, Fátima em 11 de junho de 1908, e era o filho mais velho da família.
Eles eram pastores de ovelhas e ajudavam sua prima Lúcia no pastoreio.
Antes de explicar a relação entre essas crianças, a gripe espanhola e o que estamos passando atualmente precisamos entender o valor que as penitências e sacrifícios tem para Deus.
Após a morte de Cristo as pessoas continuaram praticando o pecado, embora muitas se voltassem para o bem, muitas também escolheram o mal.
Isso ofende Deus.
Para reparar essas ofensas, tanto ao Sagrado Coração de Jesus, quanto ao Imaculado Coração de Maria, os jejuns, orações e sacrifícios são necessários e bem quistos.
Além disso, a oração pelo outro, pela conversão de tantos que estão em caminhos tortuosos é agradável e correta no ponto de vista espiritual, como nos mostram os escritos bíblicos e da igreja primitiva.

"Vós, pois que lançastes as bases da rebelião (em sua igreja), apresentem-se aos presbíteros a fim serem castigados ao arrependimento dobrando os joelhos em um espírito de humildade." - Papa Clemente I, Carta aos Coríntios, 57 - 80 d.C.

"Cheguei-vos a Deus, e Ele se aproximará de vós. Lave as mãos, pecadores, e purificai os corações, vós de espírito vacilante.
Afligi-vos, chorai e lamentai. Converta-se vosso riso em pranto, e vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos diante do Senhor e Ele vos exaltará." - Tiago 4, 8-10

Entendida a importância dos sacrifícios, voltamos a vida desses dois irmãos que vivendo em época de guerra, escassez e pestes dedicavam a praticar essas mortificações diárias, muito radicais inclusive para pequenas crianças, mas que eram impelidas pelo amor ao outro e a Deus.
Além de fazerem longos jejuns, dar sua comida as ovelhas e ficarem sem alimentos durante o dia, açoitavam suas pernas com urtigas, amarravam cordas na cintura de forma a sentirem dor e ainda faziam muitos outros tipos de sacrifícios. Voluntariamente.
Nessa época a gripe espanhola assolava a Europa. As questões higiênicas, a falta de alimentos e as trincheiras abarrotadas de soldados fizeram com que essa gripe se espalhasse rápido, e antes de atingir Jacinta, Francisco e toda a Leiria, os pequenos continuavam praticando essas mortificações.
Eles sabiam que iriam morrer. Foi-lhes revelado isto na aparição do dia 13 de junho de 1917 e ainda
foi-lhes dada a opção de morrerem mais brevemente ou sofrer mais por outras almas.
Escolheram sofrer.
Francisco, um menino contemplativo, que nos últimos tempos de sua vida dedicou-se à oração, faleceu de gripe espanhola em 04 de abril de 1919, proferindo as últimas palavras: "Sofro para consolar nosso Senhor. Daqui vou para o céu."
Ele tinha 10 anos.
Jacinta também assolada da mesma peste foi levada à um hospital,
e aceitou isso mesmo sabendo de que nada adiantariam os tratamentos empregados.
Foi submetida à uma cirurgia sem anestesia, pois sofria de uma doença chamada pleurisia (inflamação na membrana que envolve os pulmões) e não poderia ser anestesiada, fez a retirada de duas costelas para que isso ajudasse na sua respiração, mas como predito, não resistiu e faleceu no dia 20 de fevereiro de 1920, então com 9 anos.
Nos centenários das mortes dessas duas santas almas, podemos refletir sobre o sofrimento e o quanto ele pode ser usado em favor do outro.
Duas crianças abraçaram o sofrimento para que outras almas pudessem ser abraçadas pela paz.
Acredito que estávamos muito cômodos em nossas casas no alto do nosso egoísmo, nos importando com coisas pouco importantes e muito conosco mesmos.
Episódios como o que estamos vivendo hoje, nos ensinam a ver a vida de outros ângulos. Nos ensinam que esse mundo não é um grande parque de diversões. É agora o momento de nos voltarmos para as reais prioridades, e não termos medo do sofrimento, mas enfrentarmos tudo com a real convicção de que da dor surgem coisas maravilhosas.
Que São Francisco e Santa Jacinta Marto, possam dar-nos a coragem necessária para passarmos por tudo que devemos passar, porque, a felicidade nesse mundo é algo ilusório. A real felicidade não reside aqui, mas nos espera na eternidade.
                                             

                                                      "Omnes enim Christus, nihil sine Maria"