Esses dias andei refletindo muito sobre meus trinta anos de vida e sobre tudo que já passei, conquistei, perdi, e aprendi.

Aniversários são ótimos para isso, para podermos rever um pouco das nossas atitudes, pesar na balança como tem sido a nossa vida, analisar mais a fundo nós mesmos.

Fiz grandes avanços. 

Me lembro da Daiane de, sei lá, quinze anos atrás. Acuada, com medo do mundo, tentando loucamente se adequar a ele, mesmo que tudo aquilo que fizesse não estivesse fazendo sentido algum pra ela, lá estava ela tentando ser o mais perfeita possível. Talvez de certa forma isso ainda aconteça vai, mas com uma intensidade menor que na adolescência (acredito eu).

E também tem a Daiane de dez anos atrás. Prepotente, no seu primeiro emprego, com sonhos gigantes que na mente dela eram concretos, teve que aprender que nem sempre as coisas saem da maneira que planejamos, que a vida não é "planejável", e que mesmos os rumos diferentes que a vida nos leva, acaba nos dando destinos fantásticos, ou simplesmente, os destinos que precisamos chegar.

E tem a Daiane de agora, mais consciente de si mesma, dos seus gostos, do que acredita... Evoluindo um pouquinho por dia na sua caminhada em direção ao autoconhecimento, ao amor ao outro e ao amor ao divino.

Desde a infância nos perguntam o que vamos ser quando crescer e acredito que eu nunca realmente soube responder essa pergunta.

Sempre mudei de opinião em relação a mim mesma. Instável, eu sempre estava com uma ideia nova com o passar dos anos.

Fui de Vendedora de Sorvete, à Professora, e depois de Geóloga ou Arqueóloga à Analista de Sistemas e estudante de Engenharia de Controle e Automação, mas, mesmo com o passar de tanto tempo ainda me pergunto o que quero ser. Eu ainda me pergunto o porquê de estar aqui, o que Deus pensou quando me criou, o que Ele quer de mim. 

Com a terapia, começamos a nos conhecer mais profundamente, e esse tipo de questão vem me cercando cada vez mais nas últimas semanas. Embora eu nunca tenha trabalhado em algo que eu escolhi, e tenha estudado algo que eu realmente sabia ser minha profissão, eu sei que Ele tem me colocado nos lugares certos, e estive conhecendo as pessoas certas e colhendo bons frutos dessas relações.

Eu trabalho em uma Unidade Básica de Saúde, e saúde sempre foi a área que eu evitei. Eu nunca tive certeza de muitas coisas na vida, mas uma na qual eu sempre achei ter certeza foi que eu não queria estar perto de pessoas doentes, que eu não saberia lidar com a dor sem sofrer também.

E lá vamos nós em quase 7 anos de trabalho na área. 

E nesses 7 anos de trabalho com gente precisando de cuidados, eu percebi o quanto eu mesma precisava de cuidados, o quanto todos nós precisamos. É nos momentos mais horríveis, mais doloridos que pessoas que trabalham com outras pessoas podem fazer a diferença na vida do outro, e na delas também.

E foi convivendo com outras pessoas totalmente diferentes de mim, que pude ter conexões muito profundas. Fiz realmente bons amigos que acabaram me mostrando muitas coisas boas e me moldando ao que sou hoje com quase 30 anos. E mesmo as pessoas que já não estão mais na minha vida hoje me ensinaram algo. Tudo é uma espécie de "aprendizado", os bons e maus momentos e quem conheci. Agradeço sinceramente a Deus por todas essas histórias, algumas vezes tristes e outras felizes.

Percebi que sou quem eu sou, por causa de cada pessoa, cada situação e cada dia vivido.

E foram nessas situações desde meu primeiro emprego como Recenseadora, enfrentando lugares "inóspitos" que eu comecei a amadurecer ideias e a estar mais em contato com a minha fé e com o mundo.

"Põe um motivo sobrenatural na tua atividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho. - Caminho (359) - São Josemaria Escrivá"

Lembro que nessas épocas eu conversava bastante com meu anjo da guarda (tamanho medo eu tinha de andar por aí sozinha), mas Deus em sua infinita bondade, colocou no meu caminho somente pessoas boas, não tenho o que reclamar.

Depois veio o concurso público, o primeiro emprego como funcionária pública na Biblioteca Municipal, em seguida no CRAS da minha cidade e então na saúde, e foi na saúde onde eu mais sofri e mais evoluí. E foi querendo sair desesperadamente do meu trabalho que eu atirei para todos os lados em busca de algo que me salvasse, aka* fuga. Eu não queria enfrentar a dor tão cara a cara, e até que no meu local de trabalho isso acontece de forma bem mais branda que um hospital ou um pronto socorro por exemplo, mas mesmo assim dói ver os pacientes não voltando, ou descobrindo seus diagnósticos pesados. 

No entanto, muitos pacientes nos fazem um bem enorme, nos fazem sorrir com um bom dia animado, nos contam suas experiências de superação e de fé, e de repente, a cumplicidade com nossos colegas de trabalho e os pacientezinhos que valem a pena, nos fazem ficar.

Me equivoquei por muito tempo tentando me livrar desse trabalho, logo eu que sempre quis de alguma forma ajudar pessoas. Seguir os exemplos de Santa Bernadette, Santa Terezinha e de tantos outros santos que de alguma forma faziam a diferença na vida de alguém. E se eu fizer um dia diferença para uma dessas pessoas que eu atendo todos os dias, para alguns desses meus colegas de trabalho, (em meio ao cotidiano e algumas conversas), eu terei ganhado a vida e terei "sido alguém".

Porque há alguns anos eu achava não ter me esforçado o bastante para "ser alguém", mas, o que é "ser alguém"? Você pode ser tão importante fazendo coisas tão simples todos os dias, que essa expressão hoje não tem mais validade para mim. 

Uma mãe que é uma excelente mãe, uma professora que é excelente em ensinar e sobretudo, pessoas que fazem seus trabalhos com amor são alguém, são diferença.

Eu não vou desistir de encontrar o que realmente me move, mas estou com certeza conseguindo visualizar melhor para que caminhos Deus quer me levar, e também as respostas de todas as orações e pedidos que fiz durante esses anos.

Sei que estou ainda bem distante de ganhar as honras de ter feito o meu trabalho com excelência, mas nos altos dos meus 29 anos, estou começando a compreender que a nossa incessante busca por um caminho termina quando você entende que é difícil ter certeza de quem você deve ser, mas que fazendo o melhor possível por você e pelo outro, o caminho se torna menos árduo, e o destino se torna mais aparente.

Eu ainda não sei o que serei no futuro, mas eu sei que meu trabalho deve ser instrumento divino para que outras pessoas possam se beneficiar dele, leve-me Deus pelos caminhos que levar.

Feliz Dia das Mães à todas as boas Mães desse mundo :)

*aka (ingl.): also known as: Também conhecido como.

#PraCegoVer: Desenho de uma menina, com seu urso de pelúcia, desbravando um caminho solitário e não tão amistoso. Desenho feito por mim :)