Nas sombras eu não mexi, realcei os brancos para 47 e nos pontos negros eu também não fiz nenhuma alteração, para que a sombra que houvesse ficasse em um tom mais natural, nem muito acinzentada nem muito escura.

"Consideremos nossa alma como um castelo, feito de um só diamante ou do mais límpido cristal, onde existem numerosos aposentos, assim como no Céu há muitas moradas. No centro, no meio de todas as moradas, está a principal, que é onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma. Talvez agrade a Deus que, por meio desta comparação, vos possa eu dar a entender algumas das graças que se digna o Senhor conceder aos seus. Vejamos como haveremos de fazer para penetrar no interior desse castelo."

Desde 2017 quando comecei a estudar mais teologia, o nome de Santa Teresa D'Ávila era citado por diversos padres e estudiosos da área (e de fora dela), pelos seus escritos de valor ímpar. Mas quem foi Santa Teresa D'Ávila?
Teresa nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, numa família firmemente cristã. Junto com seu irmão, desde pequenos já almejavam o martírio (morte pela igreja), inspirados em outros santos mártires.
Quem os impediu aos 7 anos de cometer tal ato, foi um tio, que vendo que iriam até as muralhas, os deteve.
Em 1535 entrou para o Carmelo e após um problema de saúde que quase tirou-lhe a vida, fortaleceu-se na fé e começou a ter revelações divinas. Muitos a julgavam louca, imaginativa demais, ou que as coisas que ela sentia ou via eram malignas, mas com muita força superou tudo isso e começou a escrever sobre como entendia tudo que lhe estava acontecendo.
Percebendo que sua alma pedia mais rigor na vivência da fé, começou então reformas no modo de vida carmelita com a ajuda de São Pedro de Alcântara, embora tenha tido muitas dificuldades, conseguiu a permissão para infundir uma vida mais austera, como a dos primeiros cristãos.
Nessa época, conheceu Frei João, que hoje é conhecido como São João da Cruz, doutor da igreja. Eles se tornaram amigos, e por terem ideias parecidas a respeito da vida monástica se apoiavam.
Por denúncia, os escritos de Santa Teresa foram examinados pelo tribunal do Santo Ofício, tribunal esse que investiga casos de heresia, enganações e outros . O livro em questão não é o do título dessa postagem, mas outro, chamado O Livro da Vida. A inquisição não queria que esse livro chegasse a outras irmãs carmelitas sem antes tê-lo aprovado. Inclusive um outro livro que ela escreveu na época, para que fosse liberado pelos inquisidores, foi examinado por um frei, amigo dela, por precaução, pois, mulheres não podiam citar a Bíblia, por exemplo, então citações do tipo deveriam ser retiradas para que ela pudesse publicar a edição sem que houvessem objeções.
O povo da época a acusava de heresia, e as perseguições se tornaram mais fortes com o passar do tempo.
Após anos de sofrimento, o Tribunal do Santo Ofício a julga inocente de todas as acusações e ela é liberada para terminar a reforma carmelita com a abertura de mais de 32 mosteiros durante sua vida.
No ano de 1970, o Papa Paulo VI a reconhece como doutora da igreja, umas das 4 doutoras até então.
A história de vida dessa Santa é bem mais extensa, mas por hora vou falar de uma de suas obras, a que tive o prazer de ler por duas vezes, o meu segundo livro desse ano.
Em Castelo Interior, Santa Teresa compara nossa alma com um castelo, com 7 moradas. Na sétima morada encontra-se o rei (Jesus), porém para se chegar até essa morada é necessário muito sacrifício, muito sofrimento, e muita entrega.
De morada em morada ela descreve as dificuldades que a pessoa passa, para poder adentrar em outro aposento.
Nas primeiras moradas é mais usual que a alma que esteja almejando progredir esteja não tão profundamente ligada ao rei da sétima morada, e isso faz com os que, Santa Teresa chama de "animaizinhos", perturbem muito mais do que nas moradas em que o contato com o rei é mais próximo.
Esses "animaizinhos" são tudo o que te tira a vontade de persistir até a sétima morada. Aqui podemos entender como tentações ou propriamente demônios, eu interpretei como na segunda forma, embora as duas estejam corretas.

"Aqui, ainda se trata de pessoas embebidas no mundo, engolfadas nos contentamentos e deslumbradas pelas honras e pretensões; seus vassalos interiores, que são os sentidos e as potências, não estão revestidos da força que Deus lhes outorgou, originariamente; por isso com facilidade são derrotados, embora andem com desejos de não ofender a Deus e façam boas obras."

Nas últimas moradas já se recebem as graças. Aqui os já santos e santas, não são mais importunados pelas tentações, já que a alma está tão entrelaçada ao rei que nada mais nesse mundo chama sua atenção.
Nessas moradas o sobrenatural é muito presente, e a alma muito forte.

"Aqui é de outra maneira. Quer já nosso bom Deus tirar-lhe as escamas dos olhos e dar-lhes a ver e entender parte da graça que lhe concede, conquanto de modo estranho."

No mapa que recebi junto com o livro, vê-se claramente a ligação entre as escrituras e as moradas o que comprova a origem benéfica dos escritos, embora isso nem deva ser questionado, visto que após tanto tempo e sendo nomeada como doutora da igreja, isso seja indiscutível.
Além da evolução das moradas é necessário salientar que Santa Teresa utiliza comparações que nos fazem entender melhor como tudo se envolve e com isso nos faz compreender mais profundamente a dinâmica da alma em contato com o divino.

"Por isto, tomai meu aviso: se achardes de sua parte qualquer resistência, não insistais, porque o desgostareis, de maneira que nunca vos deixará entrar nelas. É muito amigo da humildade. Se vos tiverdes por indignas de merecer o ingresso ainda nas terceiras moradas, mais depressa lhe movereis a vontade para vos admitir nas quintas..."

Vale muito a pena ler esse livro, principalmente para quem pretende intensificar sua vida espiritual, tamanho tesouro é para a edificação da alma e para conhecimento teologal. Como diz parte de uma oração que Santa Teresa escreveu: "Só Deus basta. Nada te perturbe, nada te amedronte. Tudo passa, a paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta. Só Deus basta!", precisamos estar em contato com Deus se quisermos passar pelas adversidades com um esteio. Como ela que passou por todas essas moradas, que nós, inspirados em sua vida de fé possamos também seguir pelo bom caminho rumo ao rei que se senta na sala mais preciosa.
Deixarei aqui alguns links para compra, porém, essa edição da foto faz parte de um clube do livro chamado Minha Biblioteca Católica, talvez em breve eu escreva algo sobre eles aqui no blog. Por hora deixo links da edição que eu li antes de adquirir a assinatura do clube.

♡ Submarino - As Moradas do Castelo Interior
♡ Americanas - As Moradas do Castelo Interior
♡ Amazon - As Moradas do Castelo Interior - ebook


#PraCegoVer:  Imagem do livro Castelo Interior, de capa dura, verde, com letras douradas. Minha mão o segura. No fundo uma parede branca.

Talvez eu seja pensativa demais, imaginativa demais, ou até criativa demais, não sei, só sei que costumo lembrar das coisas e meço elas como se pudesse medir meus desenhos técnicos, ou melhor, as julgo, e costumo guardar as coisas boas em uma caixinha dentro de mim.
Acredito que são essenciais para poder continuar.
Na maioria das vezes guardo sentimentos, aromas, sensações e as melhores coisas: As memórias de minha infância.
Memória das primaveras pinhalzinhenses que eram não tão quentes, com cheiro de flores e nuvens no céu, nessas primaveras surgia meu eu sorridente para aquecer tudo, muitas vezes trajando aqueles vestidos cor-de-rosa que faziam as pessoas me acharem a menina mais fofa (eu ia colocar do mundo, mas acho que estaria sendo pretensiosa demais), do bairro.
Lembro de saltitar pelo caminho, e isso me fazia sorrir por dentro e por fora. As idas e vindas da escola eram sempre com meus amigos, raramente eu estava sozinha, e como tudo aquilo era maravilhoso. Depois da aula, nas tardes, sentava na grama para observar o bando de garças que em formato de V, cortavam o céu rumo ao leste.
Minha mente era uma criadora de histórias...
Guardava um strass que repousava em um algodão dentro em uma caixinha de fósforos como se fosse meu diamante, e a goiabeira era meu castelo. Junto com meus amigos eu me tornava qualquer personagem, pois éramos crianças, e crianças com uma boa imaginação tudo podem.
Eu me desesperei quando percebi que estava crescendo, e inocentemente pedia para Deus que ele me deixasse criança para sempre.
De certa forma ele deixou que aquele ser inteiramente puro tivesse uma parte dentro de mim, embora eu tenha crescido e tenha me tornado adulta com milhares de coisas por fazer, ainda tenho esse quê de imaginar, e as lembranças todas guardadas em minha caixinha interna, fazem ativar a minha essência que ainda vive.
Era junho, eu deveria ter por volta dos 9 ou 10 anos. Esperava ansiosamente pela maquiagem de caipirinha, amava as trancinhas nos chapéus de palha, já que tinha (forçadamente) cabelos curtos, e sempre ansiava por tê-los longos.
Vestido azul com florido de chita, uma renda na barra.
As bochechas vermelhas com sardas de lápis preto.
Tênis e meia calça. Pronta para a festa de São João.
Chegava na escola, cerca de 3 minutos de casa. Todas as crianças do bairro lá, vestidos de caipiras e dançando juntos.
Ensaiávamos meses para uma apresentação que os pais aplaudissem, mas o mais divertido era poder dançar com os amigos e se vestir diferente dos dias normais.
Chega em casa, tira o tênis, continua a brincar com roupa de caipira.
As flores de São João eram o sinal... E ainda são.
Eu ainda as vejo no caminho do trabalho. Na última sexta-feira mesmo as vi. É uma espécie de trepadeira que nessa época do ano, às portas do mês de junho, dá várias pencas de uma flor alaranjada, que possui um néctar doce que atrai tanto beija-flores, quanto crianças.
A sensação quando vejo as cenas do meu passado no meu presente é muito peculiar, e se mescla com a recordação de um tempo muito bom que passou, mas que me ensinou muitas lições.
Uma delas é que antes de provar o néctar doce dessa flor, é bom verificar se não tem formigas dentro (quem já fez isso sabe do que estou falando), não é uma experiência agradável, da mesma forma é com a vida. As vezes você encontra o doce da flor, as vezes a dor de uma picada de formiga.
E tá tudo bem.
A vida é sazonal.
Existem primaveras, verões, outonos e invernos. Uns anos mais frios, outros mais quentes. Uns mais chuvosos, e outros mais secos.
A dificuldade está em se adaptar a todas essas mudanças de estações e de climas.
A vida muda muito.
É complicado viver, ainda mais nos dias de hoje que estamos cheios de desafios, mas acredito que nosso eu criança ficaria orgulhoso e feliz nos vendo tentando ser cada dia melhores e mais felizes, ainda mais perante as dificuldades.
Já são quase 29 outonos e as vezes ainda é difícil, mas o que eu sei é que a Daiane criança era mais feliz porque ela não esperava um amanhã, ela vivia hoje, amava hoje, sonhava hoje, e depois acabava até mudando de sonhos e planos, mas ela não se importava com isso. Como disse no começo do texto, seus tesouros eram uma árvore, seus amigos e uma caixinha de fósforo com um diamante falso dentro, e ela não precisava de mais nada.
Lembro de uma velha canção que ouvia quando pequena chamada What's Up, da banda 4 Non Blondes:

"E então eu levanto de manhã
E eu saio lá fora
E eu dou um respiro profundo, e eu fico bem
E eu grito com todo o meu pulmão:
O que está acontecendo?"

As vezes é difícil entender, mas quando estou triste ou confusa geralmente pego uma foto antiga minha, olho e penso o que eu faria se fosse aquela, daquela época.  Meu eu criança tinha sempre uma resposta para tudo, e se não soubesse a resposta perguntava, até descobrir o que fazer. Nos dias em que me forço a descobrir uma resposta, me atenho toda a isso e olho dentro de mim. Então a resposta vem. E vem em forma de sorrisinho puro e de covinha no rosto.
#PraCegoVer: A imagem do começo do texto contém uma pessoa segurando uma foto de uma casa, que se sobrepõe a casa hoje. A imagem da casa antes e depois juntas na mesma fotografia. Passado e presente se entrelaçando.

"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"

O catecismo da Igreja Católica é um livro que aborda a doutrina católica como um todo.
Nele encontramos a profissão da fé, os sacramentos, a vida e a oração.
Todo o católico (eu disse TODO) deveria lê-lo ou consultá-lo sempre.
Digo isso pelo o que geralmente acontece quando alguém aborda um católico e quer saber sobre algo que normalmente é tradicional da igreja. Na maioria das vezes ele não sabe responder, tristemente, porque não estuda a própria religião.
Não sei onde ouvi mas é verdade, não se pode amar algo que não se conhece, ou seja, trocando em miúdos, é impossível amar a igreja da qual você faz parte se você não a conhece, e não digo isso porque sempre a conheci, pelo contrário, existiram tempos nos quais eu quase acreditei em coisas totalmente sem sentido, porque quando me perguntavam o porquê disso ou daquilo eu não sabia responder, então nada melhor do que ter a resposta, mesmo que só pra si mesma.
Falando do conteúdo do livro, ele é traduzido do texto oficial em latim, e tem como objetivo, além de ajudar na educação espiritual, guardar a doutrina para as próximas gerações, para que tenhamos algo seguro a seguir, e possamos saber a maneira de estarmos totalmente dentro do que nos pede a igreja.

A primeira parte aborda a profissão de fé, que nada mais é do que o Credo, oração recitada pelos apóstolos na igreja primitiva, com o intuito de ter algo que se pudesse decorar para poder apresentar as pessoas com as quais eles encontravam pelos seus caminhos de evangelização.
Recitando essa oração professavam a fé que seguiam, sendo uma maneira mais "fácil" de dizer no que acreditavam, já que na época não haviam livros como existem hoje. Tudo foi passado oralmente nos primeiros séculos do Cristianismo.
O catecismo destrincha frase a frase, palavra por palavra destacando contextos históricos e passagens bíblicas que norteiam o Creio.

"2. A tradição oral: 'O que o Senhor dissera e fizera, os Apóstolos, após a ascensão do Senhor, transmitiram aos ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que desfrutavam, instruídos que foram pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela luz do Espírito de verdade.' -Catecismo da Igreja Católica, Prólogo, pg 17"

A segunda parte aborda os sacramentos de fé da igreja, explicando-os passo a passo, como funcionam, porque existem, e os contextos bíblicos acerca deles. Com os sacramentos, vem também a liturgia e o significado dos símbolos e dos atos dentro das celebrações. Uns anos atrás eu me
perguntava o que significavam as cores dentro da missa, o ano litúrgico, os sacramentos também me eram confusos...
Quanto mais fui sabendo sobre, mais encantada eu fiquei do quão rico é o rito católico. Quanta simbologia, desde a cor da vela, até as semanas que se entrelaçam totalmente com a vida de Cristo.

"Na celebração da liturgia, é máxima a importância da

Sagrada Escritura, pois dela são tirados tanto os textos que se leem e que são explicados na homilia, como os salmos cantados. De sua inspiração e de seu espírito, surgiram as preces, as orações e os hinos litúrgicos. É dela também que as ações e os símbolos tiram sua significação. -Catecismo da Igreja Católica, pg 311"

A terceira parte intitulada "A Vida de Fé", apresenta os caminhos para um encontro maior com Deus. Com isso podemos entender como a caridade é ponto fundamental nesse rumo, e como os Dez Mandamentos estão entrelaçados no amor ao outro e no nosso crescimento espiritual. Aqui mais uma vez, podemos recordar os significados de cada mandamento, que muitas vezes sabemos de cor, mas não praticamos no dia a dia.
E quão difícil é praticá-los.
Tudo se resume a duas coisas: amor a Deus e amor ao próximo.
Quando amarmos o outro como nos amamos, então estaremos no pleno cumprimento de tudo. Teremos enfim encontrado o caminho.

"Ou nos afastamos do mal por medo do castigo, estando assim na posição do escravo. Ou nos deixamos levar pela atração da recompensa, assemelhando-nos aos mercenários. Ou é pelo bem em si mesmo e por amor de quem manda que nós obedecemos [...], e então estaremos na posição de filhos.- São Basílio Magno"

A oração na vida de Fé, é a quarta e última parte do livro, que conta desde o contexto histórico do surgimento da oração, a ligação bíblica, a prática da oração e o "destrinchar" do Pai-Nosso e seu significado frase por frase. A oração é muito importante para aqueles que querem alcançar um estreitamento espiritual com Deus.
Através da oração podemos meditar sobre muitas coisas, e infundir em nossas almas o amor a Ele e assim o amor ao outro.
Uma vida sem oração é uma vida vazia.

"O Senhor nos ensina a rezar nossas orações em comum por todos os nossos irmãos.  Pois não diz 'meu' Pai que estás nos céus, mas 'nosso' Pai, a fim de que nossa oração seja com um só coração e uma só alma, por todo o corpo da Igreja.- São João Crisóstomo" 

Pessoalmente, foi de uma graça inestimável poder ter esse livro e lê-lo.
Além de saber mais sobre a dinâmica espiritual e os contextos históricos que fizeram da igreja o que ela é hoje, foi muito bom saber um pouco mais sobre os ritos de dentro das missas e porque são celebrados.
Saber que toda essa tradição vem lá de traz, dos apóstolos e do próprio Cristo me dá aquela sensação de fidelidade, e de que estou próxima à eles mesmo que em outro ponto do tempo.
Existem dados, que dizem que a maioria dos católicos que se afastam do catolicismo, são aqueles que não estudam e se deixam levar por qualquer coisa, que qualquer pessoa diga a respeito das nossas crenças, mesmo sendo errado, e existem também dados de pessoas em outras religiões, que voltaram a Igreja Católica após estudarem a fundo as escrituras e a história.
Por isso, deixo aqui o apelo para que procurem saber o significado de cada festa, cada palavra e de cada ato dentro da igreja. Façam tudo com muito amor e carinho, e acabarão cada vez mais apaixonados por essa religião.

Feliz dia das mães! Que Nossa Santa Mãe, Maria, esteja sempre com vocês!



Alguns links para compra:
♡ Submarino - Catecismo da Igreja Católica, Edição de Bolso
♡ Paulus - Catecismo da Igreja Católica
♡ Ponto Frio- Catecismo da Igreja Católica
♡ Magazine Luiza- Catecismo da Igreja Católica (bolso com capa cristal)


"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"  

Sebastião do Carmo Silveira, um nome tão forte para uma alma tão doce.
Vivia entre oração, trabalho manual com cestos de taquara e contando seus "causos".
Eu o perdi aos treze anos.
Ele era o amigo que comigo assistia TV, que sempre parava tudo para poder estar ao meu lado, e que me dava conselhos de como fazer as coisas da maneira certa. E melhores amigos a gente não esquece certo?
As vezes que caí e me machuquei, ele estava lá para parar o meu choro e dizer que estava tudo bem. Meus joelhos tem diversas cicatrizes, e meu coração diversos alentos.
Nas tardes ele me ninava em seu colo, e cantava canções enquanto eu adormecia.
Eu era doce como ele.
A vida de adulto muitas vezes tira essa doçura da gente sabe? Sempre busco isso dentro de mim, é um propósito de alguns anos, ser o mais doce possível. E a fonte do meu eu doce é um pouco dessas minhas memórias que sempre vem com um céu azul e um sol brilhante, com sorrisos e com bondade exalando no ar.
O banquinho de madeira, no qual sempre se sentava nas tardes, acabava me atraindo para perto dele e daí sempre vinha uma lição de vida pra eu aprender.
Nas orações da manhã, eu seguia os passos dele para aprender a rezar e muitas vezes depois eu me via repetindo isso sozinha, cantando canções ao redor do quintal.
Quando alguns dos amigos que ele tinha no bairro visitavam a casa, e contavam os "causos" antigos eu sorria junto muitas vezes sem nem entender...
Aqueles invernos frios, quando o leite fervido lançava seu aroma, e a grama ficava branca ao amanhecer, raramente são vistos hoje. O bairro está lotado de casas de pessoas que a gente não conhece e que normalmente vem de cidades bem maiores que a nossa, isso fez com que a natureza que existia, não exista mais. Infelizmente.
Aliás aquele mundo dos anos 90 ficou realmente no passado. Apenas algumas coisas continuam em seus lugares, uma delas o banco de frente pra estrada, que fica debaixo das árvores e continua sendo usado por mim, quando leio, por meu pai na confecção de cestos e outras pessoas esporadicamente, mas sempre com a lembrança de que ali era o lugar em que o "vô gostava de estar".
Com o passar dos anos as imagens vem mudando de cor e estão desaparecendo, mesmo sem querer. Este é o preço que se paga quando o tempo vai avançando, mas eu não quero esquecer.
Por isso escrevo aqui hoje, porque sei que se um dia eu não me lembrar, meus escritos me lembrarão.
Meu avô é o responsável pela minha essência, que nesses 28 anos eu tenho perdido pelo caminho, mas que sempre volto a encontrar, porque a presença dele é muito forte em mim, e sei que de certa forma, me ajuda a sempre voltar para o caminho certo, não importe o quão perdida eu esteja por aí.