Confesso que se hoje escrevo aqui sobre eles, é porque nos últimos dias ouvi falar muito sobre a relação entre os pequenos pastorinhos de Fátima, a gripe espanhola e a covid-19.
Sempre fui uma "estudiosa" de aparições marianas antes de me interessar por teologia no geral (aqui temos uma enorme prova de que Ela nos leva até seu Filho), e nesses estudos, principalmente os dos fenômenos em Fátima, acabei pegando ganchos teológicos que poderia explorar, porém não tinha me atentado à esse fato na época, principalmente da causa da morte dos videntes. Se pegarmos a linha cronológica da vida desses dois santos, já podemos perceber o momento histórico e datas curiosas em meio a biografia dos dois.
Jacinta de Jesus Marto, nasceu em Aljustrel, Fátima em 05 de março de 1910. Filha caçula de Manoel Pedro Marto e Olímpia de Jesus dos Santos, foi providencialmente batizada no dia 19 de março de 1910.
Francisco de Jesus Marto nasceu também em Aljustrel, Fátima em 11 de junho de 1908, e era o filho mais velho da família.
Eles eram pastores de ovelhas e ajudavam sua prima Lúcia no pastoreio.
Antes de explicar a relação entre essas crianças, a gripe espanhola e o que estamos passando atualmente precisamos entender o valor que as penitências e sacrifícios tem para Deus.
Após a morte de Cristo as pessoas continuaram praticando o pecado, embora muitas se voltassem para o bem, muitas também escolheram o mal.
Isso ofende Deus.
Para reparar essas ofensas, tanto ao Sagrado Coração de Jesus, quanto ao Imaculado Coração de Maria, os jejuns, orações e sacrifícios são necessários e bem quistos.
Além disso, a oração pelo outro, pela conversão de tantos que estão em caminhos tortuosos é agradável e correta no ponto de vista espiritual, como nos mostram os escritos bíblicos e da igreja primitiva.

"Vós, pois que lançastes as bases da rebelião (em sua igreja), apresentem-se aos presbíteros a fim serem castigados ao arrependimento dobrando os joelhos em um espírito de humildade." - Papa Clemente I, Carta aos Coríntios, 57 - 80 d.C.

"Cheguei-vos a Deus, e Ele se aproximará de vós. Lave as mãos, pecadores, e purificai os corações, vós de espírito vacilante.
Afligi-vos, chorai e lamentai. Converta-se vosso riso em pranto, e vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos diante do Senhor e Ele vos exaltará." - Tiago 4, 8-10

Entendida a importância dos sacrifícios, voltamos a vida desses dois irmãos que vivendo em época de guerra, escassez e pestes dedicavam a praticar essas mortificações diárias, muito radicais inclusive para pequenas crianças, mas que eram impelidas pelo amor ao outro e a Deus.
Além de fazerem longos jejuns, dar sua comida as ovelhas e ficarem sem alimentos durante o dia, açoitavam suas pernas com urtigas, amarravam cordas na cintura de forma a sentirem dor e ainda faziam muitos outros tipos de sacrifícios. Voluntariamente.
Nessa época a gripe espanhola assolava a Europa. As questões higiênicas, a falta de alimentos e as trincheiras abarrotadas de soldados fizeram com que essa gripe se espalhasse rápido, e antes de atingir Jacinta, Francisco e toda a Leiria, os pequenos continuavam praticando essas mortificações.
Eles sabiam que iriam morrer. Foi-lhes revelado isto na aparição do dia 13 de junho de 1917 e ainda
foi-lhes dada a opção de morrerem mais brevemente ou sofrer mais por outras almas.
Escolheram sofrer.
Francisco, um menino contemplativo, que nos últimos tempos de sua vida dedicou-se à oração, faleceu de gripe espanhola em 04 de abril de 1919, proferindo as últimas palavras: "Sofro para consolar nosso Senhor. Daqui vou para o céu."
Ele tinha 10 anos.
Jacinta também assolada da mesma peste foi levada à um hospital,
e aceitou isso mesmo sabendo de que nada adiantariam os tratamentos empregados.
Foi submetida à uma cirurgia sem anestesia, pois sofria de uma doença chamada pleurisia (inflamação na membrana que envolve os pulmões) e não poderia ser anestesiada, fez a retirada de duas costelas para que isso ajudasse na sua respiração, mas como predito, não resistiu e faleceu no dia 20 de fevereiro de 1920, então com 9 anos.
Nos centenários das mortes dessas duas santas almas, podemos refletir sobre o sofrimento e o quanto ele pode ser usado em favor do outro.
Duas crianças abraçaram o sofrimento para que outras almas pudessem ser abraçadas pela paz.
Acredito que estávamos muito cômodos em nossas casas no alto do nosso egoísmo, nos importando com coisas pouco importantes e muito conosco mesmos.
Episódios como o que estamos vivendo hoje, nos ensinam a ver a vida de outros ângulos. Nos ensinam que esse mundo não é um grande parque de diversões. É agora o momento de nos voltarmos para as reais prioridades, e não termos medo do sofrimento, mas enfrentarmos tudo com a real convicção de que da dor surgem coisas maravilhosas.
Que São Francisco e Santa Jacinta Marto, possam dar-nos a coragem necessária para passarmos por tudo que devemos passar, porque, a felicidade nesse mundo é algo ilusório. A real felicidade não reside aqui, mas nos espera na eternidade.
                                             

                                                      "Omnes enim Christus, nihil sine Maria"