A Escada do Paraíso - São João Clímaco

outubro 25, 2020

 


São João, do grego (klimakos - da escada), foi um monge que nasceu por volta do ano 575 da era cristã. Esse livro escrito por ele, é sobre a trajetória percorrida para se atingir o desapego total desse mundo. Assim como em Castelo Interior de Santa Teresa D'Ávila, que é dividido em moradas para então aproximar-se cada vez mais de Deus, aqui na Escada do Paraíso estamos falando de degraus, 30 no total.
São João Clímaco viveu como eremita no deserto durante 40 anos, e foi nomeado, após tantas décadas, como abade do grande mosteiro do Sinai. Lá ele escreveu esse livro, que é como um guia ao monge, mas também mostra a nós, leigos, a importância dessas renúncias para atingir, enfim a chamada infância evangélica (temos que seguir o exemplo das crianças, que tem muito a nos ensinar. Essa pureza e essa caridade que perdemos durante o caminho da vida).
Acredito que os primeiros degraus são os mais difíceis de subir pois são o de renúncia a vida, e para nós tão fracos, deixar tudo e seguir Cristo é algo bem complexo. Os 7 últimos degraus são da união com Deus em estado mais pleno e contemplativo. Entre o começo e o fim dessa escada, ocorre a união ao amor de Cristo se tornando mais perfeito no amor ao outro também.
Durante a leitura desse livro me lembro de ter feito anotações no meu smartphone de algumas citações que vou agora compartilhar com vocês.

"Luta constantemente contra teus pensamentos, e sempre que vagarem chama-os de volta a ti. Deus não exige uma oração livre de distrações dos que ainda estão em obediência. Não desanimes quando teus pensamentos se furtarem. Permanece calmo, e recolhe sem cessar o teu espírito. O recolhimento ininterrupto pertence apenas aos anjos."
 
"Na tradução latina da patrologia: Solo angeli semper sibi praesentes sunt - somente os anjos estão sempre presentes a si mesmos. Por serem puros espíritos, desprovidos de corpo, não há flutuações psicológicas nos anjos. Estão permanentes conscientes de si mesmos. Ao ser humano composto de corpo e alma, isto não é possível." 
Sim somos humanos e humanos se distraem, pensam em outras coisas no momento da oração. O que São João nos diz é que isso é natural, porém que não nos deixemos levar por essas distrações, mas sim que as combatamos, até que seja então mais fácil o recolhimento e a meditação.

"Aqueles que estão em meio à sociedade, a lembrança da morte causa aflição, frivolidade, e, sobretudo, abatimento e desânimo. Mas aqueles que estão livres do barulho da sociedade, a lembrança da morte lhes oferece tranquilidade, oração constante, e a guarda do espírito. Essas três virtudes têm relação dupla com o exercício da lembrança da morte: são criadas por ela e também são sua causa."
 
Ao ler esse trecho me recordei imediatamente de mim mesma, que as vezes vive com medo e as vezes pensa na morte como São João descreve. A maioria do tempo é o medo quem domina, principalmente quando alguém próximo adoece. A lembrança da morte muitas vezes rejeitada por uma sociedade que quer celebrar a vida e esquecer que a morte existe, nos faz temê-la muito mais do que gostaríamos, ou deveríamos.
A morte deve estar presente todos os dias da nossa vida, para que não esqueçamos que estamos aqui de passagem, que devemos fazer nosso melhor hoje, e que devemos buscar a conversão hoje.
Como os monges antigos diziam: "Memento Mori - Carpe Diem" - Lembra-te que morrerás - Aproveite o dia. Sabendo que temos o dia de hoje, fazemos melhor hoje. Quando esperamos por um futuro incerto (pois o amanhã não nos pertence) acabamos julgando que temos muito tempo para fazer as coisas. 
Deixamos para amanhã, para a semana seguinte, e pode ser que não dê tempo, portanto, exercite a lembrança da morte, para viver hoje de uma maneira mais santa.

"O que em primeiro lugar permite-nos estar livres da ira é o silêncio dos lábios quando o coração se agita; em segundo lugar, o silêncio dos pensamentos quando a alma se exalta; e por último, a bonança quando somos assaltados por ventos impuros."
 
Sou uma pessoa que as vezes perde o controle e essa frase veio para me ensinar algumas coisas. A ira aumenta na medida em que alimentamos ela, com pensamentos e palavras. Quanto mais falamos da situação mais a raiva aumenta, e os pensamentos de ódio vão se tornando maiores e frequentes.
Quantas vezes eu estava indisposta demais pra discutir e de repente aquela mágoa que eu estava sentindo desapareceu? É porque eu não alimentei o bichinho da raiva que vive dentro de mim. E olha que pra esse bichinho aparecer tem sido bem difícil, mas ainda aparece. Todos vivemos isso, uns mais, outros menos, mas quem consegue dominar a ira, os pensamentos e palavras que provém dela, consegue dar um passo a mais nesse degrau rumo ao céu.

"Saberás que te livraste inteiramente dessa putrefação (ressentimento) não quando rezares por aquele que te ofendeu, nem quando com ele trocares presentes, nem quando o convidares para comer à tua mesa; mas serás liberto desse vício apenas quando, tendo recebido a notícia de que ele caiu em desgraça - do corpo e da alma- tu te lamentaste e chorares por ele da mesma maneira como te lamentarias e chorarias por ti mesmo."

Quando li esse trecho ele me impactou de tal forma, que eu fiquei pensando sobre por muito tempo e inclusive, o compartilhei em algumas redes sociais.
O ressentimento, a mágoa, essas coisas que primeiro a gente não quer esquecer, e depois quando a gente esquece acha que já conseguiu resolver tudo, só se mostra realmente válido quando os sentimentos da outra pessoa se sobressaírem aos nossos.
Difícil, porém não impossível. Já vimos que São João Clímaco conseguiu. Esse trecho faz parte do nono degrau. Significa que o ser humano que chegou até aqui já renunciou tudo no mundo, e acabou chegando mais perto do coração de Deus. Quando chegamos mais próximos do coração do outro, é quando mais próximos então, estaremos do topo dessa escada.


"Aquele que se tornou servo do Senhor, temerá apenas seu Mestre; mas aquele que ainda não O teme, frequentemente se assusta com sua própria sombra."

Esse é o degrau da covardia, e é o que mais eu tropeço. Falar de Deus aos outros, acreditar e não ter medo dos desafios do dia a dia... Tudo isso mostra que não somos verdadeiramente servos, e sim pessoas medrosas que se curvam ao mundo.
Esse degrau nos mostra que devemos exercitar sempre a confiança e a fé, virtudes tão esquecidas frente aos desafios.


"Orgulha-te dos feitos que tiveste antes do teu nascimento; todos os outros, inclusive teu próprio nascimento, são dons de Deus. Pertencem a ti apenas as virtudes que alcançaste sem a ajuda da tua inteligência, porque a tua inteligência te foi dada por Deus. Apenas os feitos que alcançaste sem a ajuda do teu corpo são verdadeiramente teus porque o corpo não é teu, mas um trabalho de Deus."


Temos a mania de nos orgulharmos de coisas insignificantes, e com isso muitas vezes acabamos fazendo mal aos outros e a nós mesmos.
Isso aconteceu tantas vezes comigo, que eu só fui perceber que tinha errado, quando tempos depois refletindo sobre tudo consegui enfim ver o que eu realmente havia feito. 
Além disso, o fato de orgulharmo-nos dos nossos feitos nos trás o perigo do egoísmo, de querer acumular mais e mais e não dividir com o outro.
A única vantagem do erro é aprender com ele, portanto que aprendamos a cada dia sermos cada vez mais humildes e generosos.

Indico essa leitura que nos inspira na tentativa diária de uma vida melhor e mais próxima de Deus. 
A escolha de tentar subir essa escada abdicando cada vez mais desse mundo, nos torna mais próximos da eternidade, e com isso enfim mais plenamente felizes.
Que São João Clímaco nos inspire com seus atos à uma renúncia perfeita!



Aqui abaixo links para a compra desse livro magnífico. Alguns títulos variam de acordo com a editora, mas o conteúdo é o mesmo.




#PraCegoVer: Caixa do box com o papel estampado em desenhos geométricos brancos em fundo vermelho, que abriga os livros Escada do Paraíso que tem no desenho da capa uma escada branca em formato de cruz, um livreto chamado A escada do Claustro, de Guigo Cartuxo, um desenho da visão de Jacó de uma escada com pessoas subindo e descendo, um adesivo em fundo vermelho com a inscrição em branco "IHS" que significa "Iesus Hominum Salvator -Jesus Salvador dos Homens". Tudo isso contrastando com a parede ocre do quarto de minha mãe.





"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"


 

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