A Vida de Moisés - São Gregório de Nissa

junho 21, 2020




"Se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito".- Jo 5, 46

Mais um clássico que eu jamais teria em mãos se não fosse o clube do livro da qual sou assinante. Esse livro é do século (pasmem) 4 d.C. E o autor, que nasceu no ano de 335, chama-se São Gregório de Nissa. 
São Gregório é um dos grandes da patrística (filosofia cristã dos 3 primeiros séculos, elaborada pelos primeiros Padres, os primeiros teóricos), do início do cristianismo, homens que clarearam a fé e combateram as heresias fortemente com seus estudos, livros, sermões e outros.
Ele lutou bravamente contra a heresia do arianismo, tese de Ário, que consistia em acreditar que Cristo não era uma parte substancial do Pai, mas um filho adotivo, alguém escolhido por Deus com apenas uma "divindade angélica."
Várias pessoas começaram a seguir Ário, e aí entra o bispo de Nissa, São Basílio e tantos outros. Com o livro A Vida de Moisés, São Gregório não quis somente contar a história desse personagem importante do velho testamento, mas muito além disso, ele quis mostrar os níveis de interpretação dos fatos, para que não houvessem erros grotescos como os que estavam havendo no período da heresia ariana.

"A ignorância da natureza das coisas dificulta a interpretação das expressões figuradas, quando estas se referem aos animais, pedras, plantas e outros seres citados frequentemente nas escrituras e servindo como objeto de comparações." - Santo Agostinho

O equívoco do erro no entendimento das Sagradas Escrituras não é um privilégio de hoje. Já naquele passado distante isso era comum, disso Santo Agostinho nos alertava falando sobre a carnalização do texto sagrado lido em sua literalidade. Existe uma divisão na maneira de interpretar. O Texto Sagrado deve ser elevado atingindo sua totalidade, e sobre isso falaremos a seguir.

"Lettera gesta docet, quid credas allegoria, moralis quid agas, quo tendas anagogia: A letra ensina-te os fatos passados, a alegoria, o que deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para onde deves tender."

Os quatro tipos de leitura são classificados em sentido literal, que é o básico. Abrange o contexto histórico, e os fatos puramente, o sentido alegórico em que acontecimentos do velho testamento abrangem acontecimentos vindouros no novo, o sentido moral em que o texto ensina ao leitor algum ensinamento a ser aplicado na sua vida e por fim o sentido anagógico que mostra os fatos como explicações da glória divina, textos que nos mostram como tudo é no eterno.
Voltando ao livro, São Gregório utiliza exatamente esses tipos de interpretação ao explicar a vida de Moisés. Realmente me espantei ao ler. Fã da interpretação anagógica e alegórica dos fatos, ler esse livro me fez abrir a mente para a utilização de livros históricos como o Êxodo de forma a ensinar moralmente o leitor.
No início do livro São Gregório recorre aos fatos históricos de modo à mostrar como as coisas ocorreram, mas isso em um pequeno capítulo, pois no restante, ele nos detalha parte a parte afim de nos trazer ensinamentos baseando-se nos fatos ocorridos naquela época.

"Pois quem desconhece que o exército egípcio significa as diversas paixões da alma às quais se escraviza o homem? São os cavalos, os carros e os que estão montados neles; são os arqueiros, e os infantes e o resto do exército dos inimigos (Ex 14, 9). De fato, em que se diria que os pensamentos coléricos ou os impulsos ao prazer, à tristeza e à avareza diferem do exército que acabamos de mencionar? A afronta é a pedra lançada pela funda, e o ataque de cólera é a lança que agita sua ponta, enquanto que os cavalos puxando os carros com impulso irrefreável podem ser entendidos como afã de prazeres." - Cap 11 - A Travessia do Mar Vermelho, pg. 183

Nesse trecho podemos compreender a intenção do bispo em não só explicar, ou contar um história de forma literal, mas realmente interpretar de maneira a iluminar aquele que lesse aquele livro, mostrar que para a interpretação de um texto, exige-se muito mais que saber ler e escrever, exige-se um conhecimento profundo e uma inteligência espiritual aguçada.
Além da saída dos hebreus do Egito e a perseguição pelo mar, São Gregório também nos fala sobre o depois desses fatos, como a subida de Moisés na montanha, o tabernáculo, as vestes sacerdotais até o fim da vida desse grande profeta que escreveu sobre "Àquele que viria".
Como diz na primeira citação do texto, se acreditavam em Moisés deveriam acreditar no Cristo, pois Moisés escreveu sobre ele, e esse era o objetivo de São Gregório. Que o Cristo fosse conhecido, de maneira verdadeira, de interpretação correta para que seus ensinamentos perdurassem pela eternidade.
O fato de estar lendo esse livro cerca de 1700 anos depois dele ser escrito representa que o bispo de Nissa conseguiu levar adiante o que ele queria passar, e influenciar os cristãos através dos séculos.



#PraCegoVer: A imagem mostra o livro A Vida de Moisés sobre a cama. O livro é azul, com detalhes em vermelho. Nele temos desenhados uma árvore, as tábuas da lei e diversas plantinhas. 




"Omnes enim Christus, nihil sine Maria"


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2 comentários

  1. As preciosidades que você nos mostra continua aumentando e esse não poderia ser diferente senão outro livro perdido entre títulos! Ótimo post, como sempre.

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